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Laços de família

"Tão Forte e Tão Perto", indicado ao Oscar de melhor filme, narra trauma de garoto que perde o pai

Divulgação
Tom Hanks (à esq.) e Thomas Horn em cena
Tom Hanks (à esq.) e Thomas Horn em cena

FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM

Há 12 anos, o inglês Stephen Daldry lançava o jovem ator Jamie Bell em seu filme "Billy Elliot", sobre garotos no mundo do balé.

Agora, com "Tão Forte e Tão Perto", indicado ao Oscar de melhor filme deste ano, o diretor consegue outra atuação mirim brilhante.

Thomas Horn, de apenas 14 anos, deixa em segundo plano outros protagonistas do filme: ninguém menos que Sandra Bullock e Tom Hanks.

"Eu só disse aos meus amigos que ia filmar com eles um dia antes de partir, porque fiquei com medo de cancelarem a gravação", disse Horn à Folha em Berlim, antes da exibição especial do filme no festival de cinema.

"Mas eu fui lá. Sandra e Tom foram muito legais comigo. Agora, volto para mais um semestre normal na escola", disse o jovem pausadamente, num ritmo distante da alucinante forma de falar de seu personagem Oskar Schell, que perde o pai, Thomas (Hanks) na queda das Torres Gêmeas, no fatídico 11 de Setembro.

"Eu tinha apenas três anos quando houve o ataque. Crescer em San Francisco não me fazia pensar muito nisso, não tinha uma conexão emocional com essa história", disse.

Filmar em Nova York, contudo, mudou sua perspectiva. "Eu morei do lado do Ground Zero [local dos atentados]. Podia vê-lo de minha janela. Ainda conversamos com muita gente que perdeu parentes. Foi muito triste, mas isso ajudou a criar meu personagem", conta Horn, com voz embargada.

Já Daldry possuía vínculos com a tragédia, mesmo vivendo em Londres. "Eu tinha conhecidos nas torres, como muita gente também. Por isso, depois de 11 de Setembro, todos somos nova-iorquinos."

Mesmo sendo pano de fundo para o drama da perda do pai, a queda das torres foi uma "questão sensível" na elaboração do filme.

"Fiquei nervoso com o material. O livro [homônimo] de Jonathan Safran Foer [no qual se baseia o filme] teve forte reação contrária, mas é uma história incrível e quis contá-la", admite Daldry.

Para não magoar sentimentos, a produção chegou a criar grupos de moradores para analisar o que estava sendo filmado.

"Eles ajudaram muito. Eu era consciente de que poderia criar problemas e busquei evitá-los", revelou.

Além do assunto traumático, "Tão Forte e Tão Perto" aborda também outra questão delicada: os limites do autismo infantil.

"No livro, acho que fica muito mais claro o autismo do personagem. Mas, no filme, tornamos isso menos importante", disse o diretor.

Em Berlim, grande parte da plateia que esteve no Palácio da Berlinale, a sede do festival, terminou a exibição do filme aos prantos.

Daldry, diretor também de "As Horas" (2002), parece gostar de levar seu público às lágrimas. "Não é a minha intenção, não busco fazer os outros chorarem, mas apenas fazer, em última instância, filmes para mim mesmo", contesta o diretor.

O jornalista FABIO CYPRIANO se hospedou a convite do Festival de Berlim

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