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Cinema - Crítica/Drama

Diretor cria melodrama a partir do 11/9

Com ótimos atores, 'Tão Forte e Tão Perto' faz público mergulhar fundo no luto de um garoto

ALCINO LEITE NETO
ARTICULISTA DA FOLHA

Desde "O Nascimento de uma Nação" (de Griffith, 1915) até as centenas de filmes sobre a Guerra do Vietnã, os traumas nacionais americanos serviram obsessivamente de tema a Hollywood.

Por seu alcance, o cinema foi a mídia (ou a arte) que, nos EUA, trabalhou com mais afinco as demandas do imaginário coletivo diante de tragédias e crises sistêmicas do modelo político e social -e também ofereceu as catarses mais confortadoras.

Todavia, só poucos filmes abordaram até o momento, de maneira frontal, a destruição do World Trade Center.

Há ao menos duas explicações para isso. A primeira diz respeito à perda de importância do cinema como mídia de sintonização das consciências, no início do século 21.

Os eventos do 11 de Setembro provocaram tal difusão de imagens nos meios televisivo e eletrônico -ao ponto da obscenidade- que tornaram irrelevantes e até impossíveis as construções no cinema.

A outra explicação tem a ver com o impacto traumático causado pela destruição das Torres Gêmeas. Percalços morais (afinal, eles existem, até em Hollywood) evitaram a espetacularização pelo cinema de uma tragédia que envolveu tantos milhares de vidas e afetou tão profundamente a psique americana.

"Tão Forte e Tão Perto", de Stephen Daldry, quebra agora esse silêncio e conta a história de um garoto que perdeu o pai no ataque ao WTC.

O britânico tomou o cuidado de não exibir imagens do terror e das mortes nas torres, mas não evita a visão dos prédios em chamas nem a dramatização, no âmbito de uma família, do desespero daquelas horas horríveis.

É material polêmico: o filme concorre ao Oscar, mas também causou grande desconforto em parte da crítica por tal encenação, adaptada do livro "Extremamente Alto & Incrivelmente Perto", de Jonathan Safran Foer (Rocco).

Mais delicado, porém, que a abordagem direta do acontecimento, é seu enfoque dramático, que circunscreve a tragédia nos limites de um teatro familiar, tornando insignificante ou apenas episódica sua dimensão coletiva.

Tanto mais fundo o espectador mergulha no trabalho de luto do garoto, mais o filme se afunda no esquecimento do trauma social, desfazendo as questões suscitadas pelo 11 de Setembro nas banalidades de um melodrama de superação individual e de confraternização genérica.

Há, contudo, alguns méritos propriamente cinematográficos nesta produção. Um deles é a câmera do diretor de fotografia Chris Menges, que, a partir dos temas da queda e dos "mortos enterrados sobre os vivos" (e não sob os vivos), explora com engenho o eixo vertical da visão, em planos gerais vistos do alto e closes ao nível do chão.

Outro mérito são os atores. Todos estão excelentes, em particular o jovem Thomas Horn, 14, a quem coube a ingrata função de extrair pathos e carisma de um dos papéis infantis mais insuportáveis de Hollywood.

TÃO FORTE E TÃO PERTO

DIREÇÃO Stephen Daldry
PRODUÇÃO EUA, 2011
COM Thomas Horn, Tom Hanks
ONDE nos cines Shopping D Cinemark, Anália Franco UCI e circuito
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
AVALIAÇÃO regular

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