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Crítica Drama

Atuação brilhante de Glenn Close tira filme do lugar-comum

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

A INTERPRETAÇÃO DE GLENN CLOSE APOIA-SE INFINITAMENTE MENOS NA MAQUIAGEM DO QUE NO OLHAR

Em "Albert Nobbs" estamos, em princípio, no arroz com feijão do cinema britânico: ambientação no século 19, códigos de comportamento rígidos, aristocratas felizes, criados que, quando muito, sobrevivem.

O quadro, aqui, é Dublin, Irlanda, mas isso não altera o essencial das coisas.

O que provoca alguma alteração é mesmo Albert Nobbs, ou Glenn Close, a mulher que se disfarça de homem como modo de suportar o brutal universo masculino.

Albert é garçom na hospedaria com pretensões aristocráticas da senhora Baker.

Tudo se encaminharia para o tradicional academismo inglês, se algumas fissuras não se abrissem.

A primeira é Albert em pessoa. Depois vêm os clientes da hospedaria, bajulados invariavelmente como aristocratas; no entanto, é de outra coisa que se trata: dinheiro.

Por fim, vem a sequência central do filme: o baile de máscaras. Ali onde, para o espectador, todas as máscaras caem. Ou antes, onde fica claro que tudo isso não passa de um jogo de máscaras em que alguns se disfarçam de aristocratas, outros de médicos e um outro, de homem (Albert).

O jogo parece completo: no que é essencial, estamos diante de uma atriz (magnífica, no mais) que representa o papel de uma mulher fazendo o papel de um homem.

Mas, justamente por surgir como uma anomalia nessa sociedade organizada para que cada coisa esteja em seu devido lugar, nos damos conta de que esse "devido lugar" não é senão o da submissão das classes baixas.

Ora, por motivos óbvios, decorrentes de sua estratégia para se manter vivo nesse mundo aristocrático e masculino, Albert pode observar essa sociedade.

Não o faz com olhos críticos, evidentemente: seu objetivo é tornar-se um homem de classe média, compensar-se pelos muitos anos de submissão e sofrimento.

Até entrar em contato com Page (Janet McTeer), o pintor, que, de certo modo, virá a lhe revelar o tamanho de sua solidão e de sua infelicidade.

É o que desencadeará o drama que se segue, em que as máscaras que organizam a vida nessa sociedade tão hierarquizada cairão antes de se reorganizarem.

Sem ser um grande filme, "Albert Nobbs" se beneficia do olhar estrangeiro do colombiano Rodrigo Garcia.

E do elenco brilhante, onde Glenn Close se destaca não só por ser Glenn Close: nesse jogo do Oscar, em que a tendência é que perca para a não menos marcante Meryl Streep, a verdade é que sua interpretação, toda interiorizada, apoia-se infinitamente menos na maquiagem do que, entre outros, no olhar.

ALBERT NOBBS

DIREÇÃO Rodrigo García
PRODUÇÃO EUA/2011
COM Glenn Close, Mia Wasikowska
ONDE Reserva Cultural, Espaço Unibanco Pompeia e circuito
CLASSIFICAÇÃO 16 anos
AVALIAÇÃO bom

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