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Para produtor de Malick, Hollywood está quebrando

Donald Rosenfeld diz que Oscar é comprovação de que cinema dos EUA faliu

"Estúdios destruíram a própria atividade. Mais de metade do que fazem é lixo", afirma produtor de "A Árvore da Vida"

ANA PAULA SOUSA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Donald Rosenfeld, o homem por trás de "A Árvore da Vida" -que concorre ao Oscar de filme e de direção- desconhece as meias palavras quando o assunto é a indústria cinematográfica norte-americana, negócio do qual faz parte há 25 anos.

"Os filmes foram, um dia, o que os EUA produziam de melhor. Mas os grandes estúdios destruíram a própria atividade: mais de metade do que fazem hoje é lixo. E como os estúdios são perdulários, Hollywood está quebrando."

E não é discurso moldado pelo ressentimento. Rosenfeld tem uma carreira invejável. Produziu não apenas os dois últimos filmes de Terrence Malick mas também sucessos de James Ivory ("Vestígios do Dia" e "Retorno a Howards End") e está no roteiro adulto de Emma Thompson "Effie", em pós-produção.

Rosenfeld, 49 anos e quase 30 filmes, foi o mais jovem produtor a integrar a Academia de Hollywood. Amanhã, atravessará o tapete vermelho com a esperança de angariar um troféu.

"Malick tem chances reais de ganhar o prêmio de direção", disse à Folha, há duas semanas, durante passagem por São Paulo para visitar a família da mulher brasileira.

Vestindo camisa e bermuda brancas, Rosenfeld falou como quem não está nem aí para o que pensarão dele.

Provocador, encaixava-se à perfeição na figura de "outsider". Seria essa sua autoimagem? "Da perspectiva dos grandes estúdios, sim. Faço filmes com 10% do orçamento e, ainda assim, ganho dinheiro. Lidar com estúdios é como lidar com banqueiros."

Na economia das imagens, segundo o produtor, a cultura do excesso -limusines à disposição do diretor, cachês exorbitantes para os atores e marketing feroz- começa a cobrar sua conta. "Se gasta US$ 150 milhões para produzir um filme, você precisa pegar o público na marra. E o público não tem vindo."

Seus recursos, Rosenfeld vai buscar com investidores privados. "São pessoas que fizeram fortuna na vida e que lamentam o fim do cinema. Há um nível de filantropia no que fazem, mas sempre recebem o dinheiro de volta", diz.

E que "pó de pirlimpimpim" faz com que US$ 10 milhões sejam suficientes para custear uma grande produção? "Basta colocar todo o dinheiro na tela e não nos bolsos da equipe", devolve.

Para Rosenfeld, nada é mais representativo da crise de identidade hollywoodiana do que o Oscar deste ano.

"As indicações revelam um desejo por algo perdido", analisa. "'O Artista' é sobre um tempo em que era possível fazer filmes criativos. 'A Árvore da Vida', que acredita mais nas imagens do que nos diálogos incessantes, é uma reflexão sobre o sentido do cinema. A Academia se deixou encantar por o que parece ser água no deserto."

Para ele, a água no deserto é a qualidade. "Gostaria que meus filmes fossem usados nas escolas de cinema. Hollywood, um dia, também quis fazer clássicos. Hoje, faz filmes com humor grotesco, estereótipos, xenofobia.... Hollywood é como o ex-presidente George Bush Jr."

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