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Opinião

Prêmio suga a energia de filmes e pessoas como um vampiro

RICARDO CALIL
CRÍTICO DA FOLHA

É redundante a tese de que o Oscar 2012 seria uma celebração do cinema do passado -por conta das dez estatuetas divididas entre "O Artista" e "A Invenção de Hugo Cabret".

Todo Oscar é uma celebração do cinema do passado. E não me refiro aos filmes do ano anterior. Nem às homenagens aos profissionais, vivos e mortos, dos bons e velhos tempos.

Trata-se de algo menos concreto, mas ainda palpável: como um Midas temporal, tudo o que o Oscar toca passa, automaticamente, a pertencer ao passado.

Tudo fica ligeiramente senil, como boa parte dos senhores brancos que são maioria na Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood.

O Oscar é um vampiro de filmes e de pessoas: o prêmio suga sua energia vital, e eles passam a circular por aí como zumbis sem alma -embalsamados por botox, mumificados pela anorexia.

Depois do Oscar, filmes sobre o passado -como "O Artista" e "Hugo"- se tornam filmes do passado. Eles já não mais retratam o início do século 20: eles foram feitos no início do século 20.

Filmes sobre o futuro também se tornam filmes do passado -do lançamento até o Oscar, "Avatar" envelheceu cem anos em seis meses.

No Oscar, Rooney Mara deixa de ser uma atriz de futuro com 26 anos e se torna uma atriz de futuro de 1926.

E Meryl Streep expõe o segredo da indústria ao dedicar sua estatueta ao colega mais importante de sua carreira: seu maquiador pessoal.

O Oscar transforma jovens em velhos, velhos em estátuas do museu de cera Madame Tussauds, negros em brancos, gordos em magros, iranianos em cidadãos do mundo, Scorsese em Spielberg, Dujardin em Benigni.

O Oscar é uma maldição. Os atores premiados passam a fazer filmes horrendos (as atrizes correm o risco de terminarem seus casamentos). Ainda bem que Carlinhos Brown tem o corpo fechado.

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