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Carlos Heitor Cony

Fora do tapete vermelho

Verdadeiros abacaxis com 10 ou 11 estatuetas se apresentam nas telas de todo o mundo

Nunca dei muita bola para os prêmios da Academia de Hollywood; raramente assisto a alguns pedaços da cerimônia, que me parece um pouco provinciana, com os premiados agradecendo à mãe, aos filhos, aos parentes até a terceira geração.

Creio que, numa lista dos cem melhores filmes de todos os tempos, lista que é feita periodicamente por revistas e instituições especializadas, a presença das obras agraciadas com o Oscar não chega a sete ou oito por cento.

Sem falar nos verdadeiros abacaxis que se apresentam nas telas de todo o mundo com 10 ou 11 estatuetas. Assim, de relance, posso citar "Carruagens de Fogo" e um filme de Bertolucci cujo nome nem guardei.

Por motivos profissionais, encomenda de uma editora, me dei ao sacrifício de assistir à cerimônia do último domingo, a 84ª edição da festa, que durou mais do que uma ópera de Wagner, sem o mesmo proveito pessoal.

Mas vamos lá. Em primeiro lugar, o caso de dois atores fenomenais, famosos por liderarem elencos antológicos, que foram indicados para a categoria de ator coadjuvante.

Max von Sydow, cujo nome está associado a uns 13 filmes de Ingmar Bergman, com 82 anos de vida e função, ficou sem levar nada, além da indicação.

A dupla Bergman-Sydow (diretor e ator principal) tem o mesmo peso das duplas Fellini-Mastroianni e

John Ford-John Wayne. São momentos do cinema.

Bem verdade que o prêmio na categoria foi para Christopher

Plummer, também com 82 anos, que, após uma interpretação meio canastrona em "A Noviça Rebelde", tornou-se um excepcional ator em teatro e cinema. Para todos os efeitos, no papel de Tolstói, em "A Última Estação", passou a merecer um lugar de honra no olimpo cinematográfico.

Neste caso, acredito que a Academia devia repartir o prêmio com os dois. O Arthur Xexéo, um especialista no assunto, no programa diário que fazemos na CBN, garantiu que já houve precedente, não me lembro quando nem com quem.

É uma pena que não tenham premiado outra dupla, esta bem mais famosa: Charles Chaplin e Buster Keaton, em "Luzes da Ribalta". Sem falar na grande dupla do Gordo e do Magro: os dois juntos são uma logomarca do próprio cinema.

Não tenho elementos para julgar se o prêmio de melhor filme está em boas mãos com a turma que fez "O Artista". Pessoalmente, desconfio de obras que ganham muitos prêmios de uma só vez. A ideia do filme (homenagem ao cinema mudo) já teve o clássico de Stanley Donen ("Cantando na Chuva"), considerado com justiça o melhor musical da história, presente em todas as listas que são feitas por aí.

De qualquer forma, foi premiação interessante, uma produção franco-belga que sai do esquadro tradicional dos filmes norte-americanos.

Também por motivos especiais, achei justa a premiação do filme iraniano ( "A Separação"), uma história bem contada, mas com alguns furos na narrativa.

Valeu, no caso, a circunstância de uma instituição tipicamente dos Estados Unidos (a Academia de Hollywood) premiar o filme de um país que diariamente recebe ameaças do governo e da mídia local.

Não vem ao caso discutir as razões da animosidade entre as duas nações. O Irã, depois do Iraque e de Bin Laden, é o demônio da vez por conta de seu projeto nuclear.

Por ora, isso nada tem a ver com a arte cinematográfica. Mas nunca se sabe o que vai acontecer, e o cinema nunca perde a ocasião de aproveitar lances históricos (bons ou maus) para ampliar a abrangência de sua função. Se é que continuará a existir cinema depois de um conflito nuclear.

Aí está uma coisa que gostaria de ver nas telas, mas não na vida pessoal. Espero estar longe, provavelmente nas chamas do merecido inferno que me espera. Mas que seria interessante uma superprodução sobre o apocalipse nuclear, seria.

Desde que fosse dirigida e produzida por Steven Spielberg, com direito a todos os efeitos especiais aos quais ele recorre e que sempre me afastaram das salas onde seus filmes são exibidos.

Tenho em meu currículo uma façanha que me dá direito a um verbete no livro dos recordes do Guinness: por motivos que nem sei explicar, vi duas vezes "O Ébrio", de Vicente Celestino, num pulgueiro do largo Machado.

AMANHÃ NA ILUSTRADA: Álvaro Pereira Júnior

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