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Livros

Edição de "Mussolini" perde dez capítulos

Biografia do líder fascista, publicada no Brasil pela Nova Fronteira no ano passado, não alerta leitores sobre cortes

Autor diz que redução de 500 páginas não lhe agradou, mas afirma tê-la aceito para viabilizar publicação no país

GUILHERME BRENDLER
DE SÃO PAULO

"Por que não começar pelo começo?", pergunta o historiador francês Pierre Milza, 79, na primeira frase do primeiro capítulo da edição francesa de "Mussolini", publicada pela Fayard, em 1999.

O questionamento é bastante oportuno ao leitor da edição brasileira da biografia do primeiro-ministro italiano entre 1922 e 1943, lançada pela Nova Fronteira em 2011.

O interessado em conhecer a vida do Duce -líder, em italiano- terá que se contentar em ler a história retratada por Milza somente do 11º capítulo em diante, que aborda Mussolini já no auge do regime.

A assessoria da Nova Fronteira diz que reduzir a obra de 988 páginas para 488, "foi uma decisão editorial".

Foram extraídos, além dos dez primeiros capítulos, as notas e o índice onomástico -fundamentais no gênero. A edição ainda deixa de fora 38 fotos. Prática comum no mercado, a condensação em "Mussolini", porém, não é comunicada aos leitores.

Pierre Milza, especializado na Itália dos séculos 19 e 20, diz que as mudanças não lhe agradaram, mas que as aceitou para "viabilizar a publicação do livro no Brasil".

"É difícil falar de Mussolini, o Duce, sem ter na cabeça a sua infância e juventude, o ingresso no socialismo, as rupturas no Partido Socialista italiano, que o fizeram o número dois do partido, ou sem lembrar de quando ele virou redator-chefe do [jornal] 'Poppolo d'Italia'".

Segundo a assessoria da Nova Fronteira, só o responsável pela edição, Heitor Aquino Ferreira, poderia falar sobre os cortes. Procurado pela Folha, Ferreira (cujo trabalho não é creditado no livro) não quis se pronunciar.

"DÉJÀ-VU?"

Milza faz menções ao passado do Duce em outros capítulos, mas, em alguns pontos, a edição deixa escapar ao leitor que falta alguma coisa.

Logo na página 7, quando aborda o tempo que a família de Mussolini levou para se mudar para Roma, o primeiro parágrafo começa assim: "Já vimos que foram precisos sete anos...". Já vimos? Não. Esse fato não é mencionado nas páginas anteriores.

A omissão de dez capítulos afeta a obra? "Infelizmente, sim", lamenta Milza. "É difícil tratar da segunda parte da vida de Mussolini sem a primeira. Ele era socialista revolucionário, sindicalista revolucionário e vai se tornar nacionalista e reacionário."

Autor de mais de 30 livros, Milza recebeu por "Mussolini" dois prêmios importantes em 2000: o Guizot-Calvados e o da Société des Gens de Lettres (a academia de francesa letras).

A produção de Pierre Milza continua: acaba de terminar "Les Derniers Jours de Mussolini" (os últimos dias de Mussolini), está na fase de correção das provas de uma biografia do revolucionário Giuseppe Garibaldi e começando uma obra sobre os 17 encontros entre Mussolini e Hitler, durante 1934 e 1944.

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