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Crítica biografia

Volume tenta entender a mecânica do fascismo italiano sem satanizar o ditador

OSCAR PILAGALLO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O fascismo do italiano Benito Mussolini (1883-1945) foi um regime totalitário equivalente ao nazismo e ao comunismo soviético?

Até meados do século passado, não havia espaço para uma resposta matizada. Sim, diziam os intelectuais italianos ainda expostos à ferida aberta pelo aliado de Hitler.

Não, dizia a pensadora alemã Hannah Arendt (1906-1975), para quem o regime não passava de "uma ditadura nacionalista banal".

Em "Mussolini", o historiador francês Pierre Milza prefere situar o Duce em uma posição intermediária. Ele foi totalitário, sim, mas à sua própria moda, defende o autor.

Embora não haja dúvida sobre a brutalidade do fascismo, a verdade, diz Milza, é que "estamos longe do terror de massa" que caracterizou os regimes hitlerista e stalinista. Mussolini "nada tem de tirano sanguinário".

Sem recorrer ao Estado policial, Mussolini optou pelo convencimento da sociedade italiana.

Para tanto, ele montou um eficiente sistema de propaganda, cooptando intelectuais que, por oportunismo ou convicção, foram partícipes da formação de um consenso nacional.

Jornalista competente quando jovem, Mussolini soube usar os meios de comunicação para atingir seus objetivos políticos.

"A imprensa se torna rapidamente um instrumento privilegiado de moldagem das consciências a serviço da empreitada fascista", afirma Milza no volume.

O autor comenta que "outros regimes imitarão e aperfeiçoarão" tais engrenagens.

Não cita Getúlio Vargas (1882- 1954), provavelmente porque isso o afastaria de seu foco, mas o leitor brasileiro, tendo em mente o Estado Novo (1937-1945), poderá vislumbrar na descrição dos mecanismos de controle social na Itália o embrião dessa ditadura no Brasil.

INFLUÊNCIAS

A comunicação com a massa, argumenta Milza, é fundamental, mas não é tudo.

O consenso não teria sido criado sobre uma retórica vazia ou apenas pela exploração da imagem carismática de Mussolini.

O fato, ele lembra, é que durante muito tempo, sobretudo no auge do fascismo, entre 1929 e 1934, todos os italianos ganharam com o regime, que beneficiou a burguesia, ainda que à custa de seu poder político, e ofereceu compensações às outras classes sociais.

Embora não seja uma biografia, a obra traça um alentado perfil de Mussolini. Se Milza ficou devendo algo, foi no campo da formação ideológica e intelectual de seu personagem.

Temas fundamentais para compreender suas ideias, como a ruptura com o passado socialista e a influência do filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900), são tratados de passagem.

Nada disso, no entanto, compromete a contribuição do autor, que, em vez de satanizar o ditador, tentou entender a mecânica da ditadura de Mussolini.

OSCAR PILAGALLO é jornalista e autor de "A História do Brasil no Século 20".

MUSSOLINI
AUTOR Pierre Milza
EDITORA Nova Fronteira
TRADUÇÃO Alessandra Bonrruquer e Gleuber Vieira
QUANTO R$ 54,90 (488 págs.)
AVALIAÇÃO bom

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