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Extinção de cópias em 35 mm leva governo e donos de cinemas a corrida para digitalizar as salas no Brasil

MATHEUS MAGENTA
ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
DE SÃO PAULO

Os créditos finais devem rolar em breve para a película de 35 mm no Brasil.

Criada pela Kodak no final do século 19, a tecnologia definha nos cinemas mundo afora, assim como a empresa que a fabricou. Após patinar por quase dois anos, a troca em massa dos projetores de 35 mm por equipamentos digitais deve enfim avançar nas salas de cinema brasileiras.

Já aprovado por deputados, um projeto de lei chega ao Senado para desonerar projetores digitais em até 30% e incentivar a construção de cinemas no interior. A previsão, ontem de manhã, era que fosse votado hoje -na quinta, perde a validade.

Na prática, o texto implementa o Cinema Perto de Você, lançado com pompa pelo então presidente Lula em 2010. Para cidades de 20 mil a 100 mil habitantes, é visto como luz no fim do túnel para o escurinho do cinema.

Em 1975, 80% das salas estavam no interior. Hoje são 50%, e muito disso se deve aos multiplex nas capitais. Se aprovado, o programa disponibilizará ao setor R$ 500 milhões para investimentos e empréstimos. Também concederá isenção de tributos federais e incentivos para a construção de salas Brasil adentro (veja quadro abaixo).

EMPRESAS

De olho no cenário, 16 empresas, donas de quase mil salas de cinema no país (42% do total), formaram um grupo em janeiro para negociar a digitalização coletiva.

O grupo decidiu pelo modelo VPF (taxa de cópia virtual; leia mais abaixo), dominante nos EUA. Em vez de gastarem quase R$ 2.500 por cópia em película, estúdios e distribuidores pagam às salas de cinema metade desse valor por cada filme digital.

Parte dos recursos sairá do bolso deles, que querem menos gastos com cópias e mais segurança contra a pirataria.

O Brasil conta hoje com 2.377 salas de cinema, segundo estimativas do Filme B, portal que monitora o mercado. Do total, 514 salas já têm projetores digitais.

A digitalização deve chegar até 2014 às mil pertencentes às empresas. A troca do restante deve ocorrer em seguida, gradativamente.

Há uma corrida contra o tempo nesse processo porque, segundo previsões, a película estará praticamente extinta no mundo em 2015. Dois fatos corroboram as previsões: o pedido de concordata da Kodak e a afirmação da associação dos donos de cinema dos EUA de que a película deve sumir do país em 2013.

DISTRIBUIÇÃO

Para o cineasta Cacá Diegues ("Bye, Bye, Brasil"), o dilema até agora era este: "É muito barato passar filmes digitais, porém muito caro instalar a tecnologia".

Por isso, o Cinema Perto de Você vem a calhar, apesar do atraso. "Nos EUA, o dinheiro para instalar a digitalização saiu todo dos US$ 800 bilhões do governo [pacote de socorro financeiro na crise econômica de 2008]. Serviu para incentivar a cultura e proteger a população", diz o diretor.

Sem a desoneração dos equipamentos, o Brasil "perde competitividade", especialmente às portas de uma Copa e uma Olimpíada, diz o produtor Adriano Civita.

"Quando vou comprar um computador, pago o dobro de um americano. Isso se eu não for financiá-lo com taxa de juros -aí pago três vezes mais. Isso no computador, no software, na câmera. E vai para toda a cadeia produtiva."

O diretor Sérgio Borges ("O Céu sobre os Ombros") acha que é preciso mais. "Falta uma política específica para aumentar a distribuição dessa produção independente."

GARGALOS

A Ancine (Agência Nacional do Cinema) já demonstra preocupação com possíveis gargalos numa expansão acelerada do parque exibidor.

Para Manoel Rangel, presidente da agência, devem faltar equipamentos, mão de obra e empresas capacitadas e livres para construir salas.

"Só desonerar não resolve. Mas as soluções estão na política do governo federal com cursos de engenharia, capacitação e facilidades para a infraestrutura", diz à Folha.

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