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Análise

A revolução digital no cinema é bem-vinda, mas traz dúvidas

A BALANÇA É INCOMENSURÁVEL. O ESPECTADOR TERÁ GAMA DE OFERTAS GRANDE, MAS QUAL SERIA O LIMITE DE PAGAR PARA VER?

PAULO SÉRGIO ALMEIDA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Sem que nos déssemos conta, nossas vidas já se tornaram "digitais". No trabalho, em casa e na hora da diversão, tudo hoje é digital. Menos o cinema. Em sua maioria, os filmes ainda chegam às salas de cinema em película 35 mm e são exibidos em projetores analógicos.

Mas por que o cinema ficou para trás? Não foi sempre o contrário? Quando alguma coisa nova nos parecia espetacular, dizíamos "parece coisa de cinema!".

A substituição dos projetores 35 mm pelos equipamentos digitais está em andamento em vários países. Alguns territórios já estão 100% digitalizados, como Hong Kong e Dinamarca, e outros estão quase lá, como Estados Unidos, França e Coreia do Sul.

Por diversos motivos -o principal deles é "quem vai pagar a conta?", mas também em função de uma indefinição dos padrões a serem adotados-, o cinema está sendo um dos últimos veículos a entrar na era digital no Brasil.

De um circuito de quase 2.400 salas, cerca de 1.900 ainda precisam adotar os projetores que obedecem ao padrão estabelecido pelos grandes estúdios de Hollywood.

As outras 500 já foram equipadas com projetores digitais aptos a exibir filmes em 3D, processo viável por se tratar de uma equação autossustentável, ou seja, o 3D, ao oferecer um diferencial que se confirmou um sucesso de público, justificou os investimentos dos exibidores.

Um dos motivos do atraso é o chamado custo-Brasil. Em uma operação de valor tão alto, os impostos teriam um impacto muito grande e poderiam inviabilizar o processo. Setores como televisão e telefonia tiveram grande apoio do Estado na construção de sua infraestrutura.

A medida provisória que prevê a desoneração fiscal para a importação de equipamentos de projeção é fundamental e chega em momento certo. Os exibidores estão sob grande pressão, decorrente de ameaças de aumento dos custos das cópias analógicas, que a cada ano se tornam mais difíceis de serem bancadas pelos distribuidores.

Como se sabe, a produção em larga escala de película era custeada pela indústria da fotografia, que migrou, há muito tempo, para o digital.

No CinemaCon 2011, em Las Vegas, o presidente da Nato (Associação Nacional dos Exibidores) chegou a determinar dezembro de 2013 como data-limite para a confecção e distribuição de cópias analógicas no país.

A Ancine trabalha com essa agenda e deve financiar cerca de 40% da implantação dos equipamentos.

Além disso, todo o mercado cinematográfico vem se mobilizando para concretizar essa revolução tecnológica, inclusive com a participação dos distribuidores, que, atualmente, bancam a existência simultânea dos dois processos (digital e analógico).

A partir da digitalização, os distribuidores se comprometem a amortizar os custos dos exibidores por meio de um sistema de compensação, o VPF (Virtual Print Fee), ou taxa de cópia virtual. Isto é, para cada cópia analógica que o distribuidor deixa de confeccionar, o dinheiro economizado é repassado para o processo de digitalização.

As consequências que o digital trará para o setor e para o espectador são enormes e complexas. A digitalização das salas deverá elevar a exibição a um outro patamar.

Para o espectador, aumenta a diversidade e a qualidade da projeção. Para o empresário, a programação torna-se mais ágil, e as chances de aumentar as receitas aumentam com a possibilidade de exibir produtos alternativos como jogos de futebol, espetáculos musicais e óperas.

Por outro lado, a rápida obsolescência da tecnologia e os custos de manutenção deixam os exibidores com uma preocupação de longo prazo.

A balança dos resultados é incomensurável. O espectador terá uma gama de ofertas muito grande, mas qual seria o limite de pagar para ver? É como se estivéssemos em um grande cassino. O crupiê avisa: "O cacife subiu, quem vai continuar no jogo?".

PAULO SÉRGIO ALMEIDA é diretor do site Filme B.

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