Catálogo revê mostra de Fernando Lemos

No lançamento do catálogo de sua exposição, no auditório da Pinacoteca do Estado na semana passada, Fernando Lemos, 85, falou de sua retrospectiva, tema do livro, como se fosse uma "confissão", ao expor todas as vertentes de seu trabalho de uma vez.

Lemos, português radicado no Brasil, sempre foi mais reconhecido do outro lado do Atlântico do que na terra onde viveu quase toda a vida.

Tanto que a mostra ocorrida no ano passado na Pinacoteca tentou juntar os dois extremos geográficos de sua produção sob o título "Lá e Cá", reunindo um apanhado significativo do trabalho plural deste poeta, artista visual, fotógrafo e designer.

Nas palavras dele, é algo que abarca "um país que me fez e outro que ajudo a fazer".

Mais conhecido por sua atuação na fotografia surrealista, em que experimentou com montagens e sobreposições, Lemos também se dedicou a pinturas, projetos gráficos, estampas e desenhos.

"Para mim, o desenho é indispensável, mesmo para a pintura, é algo que nasce como uma fotografia", diz Lemos. "O importante é a linguagem, não a língua."

Lemos lembrou também que relutou em fazer a retrospectiva no ano passado porque achava ser "coisa de morto", mas acabou gostando de ver toda a obra reunida no mesmo lugar, numa curadoria de Vera d'Horta, que também assina um texto no livro.

Ela aponta a indisciplina de Lemos como um dos principais motores criativos em sua obra, lembrando até episódios da infância, quando o artista foi expulso da escola ao ironizar os desenhos de sua professora na lousa.

No livro, as várias vertentes da produção de Lemos estão intercaladas com seus poemas, versos que parecem nortear sua produção como artista plástico e designer.

"Tudo tem uma certa dose de poesia", diz Lemos. "Sem poesia, o homem não vai a lugar nenhum. A poesia é total, é o sonho, a vida e a morte."