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Chanel surpreende fashionistas em Paris com cristais e estampas ousadas

VIVIAN WHITEMAN
ENVIADA ESPECIAL A PARIS

O Grand Palais todo enfeitado com imitações de cristais gigantes mais parece ocenário do planeta Krypton em algum filme da série "Superman" dos anos 80. Ou talvez um parque temático esotérico que resolveu promover um desfile de moda.

Nessa atmosfera, o estilista alemão Karl Lagerfeld mostrou ontem em Paris sua nova coleção para a grife Chanel. A marca, para surpresa de muitos, embarcou na onda ultrakitsch que tomou conta da semana de moda francesa.

O desfile começou sóbrio, com o tweed clássico da Chanel, mas em looks cada vez mais joviais e com inspiração esportiva. Os cristais foram logo aparecendo, formando saltos e enfeitando sapatos, mangas e golas. Até aí, nenhum sobressalto.

De repente, saias brilhantes com blusas verdes, cor-de-rosa, looks quase ciganos. Estampas (coisa raríssima na passarela da grife). Blusas de lã multicoloridas, daquelas que aparecem em filmes e seriados americanos oitentistas estilo "Sessão da Tarde". Jaquetas com efeito laminado em azul intenso. Leggings de telinha com aplicação de pedrarias. Ufa!

Alguns fashionistas riem meio nervosos. A cantora americana Katy Perry, na primeira fila com seu cabelo azul, faz cara de quem aprovou. A sensação geral é de que Lagerfeld levou a Chanel a um novo planeta.

Na saída, os fashionistas comentam o desfile animados, como se o susto já houvesse passado. Os sapatos são unanimidade, e como estamos falando de uma plateia de jornalistas, compradores e lançadores de moda, já são hit meses antes de chegarem às prateleiras das lojas.

Os acessórios, maxicolares e braceletes de pedras enormes, também agradam. A ala brasileira comenta que as peças lembram aquelas lojas de suvenires com gemas típicas do país.

A coleção é de fato rica, vibrante e muito, muito ousada para os padrões de uma maison de estilo tradicional como a Chanel.

Mesmo para Lagerfeld, que tem sido muito bem-sucedido em rejuvenescer e atualizar a imagem da grife (recrutando inclusive beldades pop como Katy Perry e Florence Welch) esse inverno é atípico e ousado.

Mas o que essa temporada marcada pelo retorno luxuoso do kitsch tem para ensinar ao mercado?

É simples: toda e qualquer coisa apresentada por certos nomes da moda com o aval das grandes revistas fashion ganha instantaneamente o status de chique.

O fato de casas como Balenciaga, Lanvin e Chanel se debruçarem sobre ícones do cafona pinça essas imagens do poço fundo da cafonalha e dá a elas um lugar, mesmo que momentâneo, no olimpo da elegância.

Não é apenas questão de remix e ponto de vista. O mercado da moda tem uma hierarquia firme, quase no modelo de castas, e, quando a elite fashion diz "isso agora é bacana", faz-se lei.

É possível discordar? Sim. Mas aqueles que o fizerem são colocados imediatamente na bacia das almas dos "fora de moda".

Nem Lex Luthor armaria um esquema de dominação tão perfeito.

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