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Crítica teatro

Dramaturgia limitada prejudica espetáculo

"Palácio do Fim", que encerra temporada, tem bom elenco, mas exploração rasa de dramas da Guerra do Iraque

LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA

O teatro como expiação de culpa. "Palácio do Fim", montagem de peça da canadense Judith Thompson, apresenta uma dolorosa revisão da investida dos Estados Unidos e da Inglaterra contra o Iraque, em 2003, com remissões à Guerra do Golfo, em 1991. O espetáculo emociona, mas não convence.

Thompson partiu de fatos e de pessoas reais para criar três monólogos que têm em comum o peso do arrependimento. As confissões são de uma norte-americana acusada de abusar de detentos iraquianos em Abu Ghraib, de um cientista inglês que escondeu saber que não havia no país armas de destruição em massa e de uma comunista iraquiana torturada, em 1963, nos porões do palácio de Saddam Hussein (referido no título) e morta por bomba americana no Golfo.

A encenação de José Wilker trança as três narrativas intercalando-as, o que acelerou o andamento das histórias. Mas, ao justapor os monólogos e contrastar as três vozes -vindas de tempos e espaços distintos-, evidenciou as limitações da peça em sua pretensão de revelar a alma atormentada dos personagens.

A exploração é rasa e impacta mais pela descrição de martírios sofridos ou de abusos perpetrados do que pela verticalidade da prospecção.

Isso apesar do bom trabalho das intérpretes: Vera Holtz, como a sólida militante iraquiana, e Camila Morgado, como a descabeçada militar norte-americana. Antonio Petrin, como o cientista inglês pusilânime, é quem está menos à vontade com a situação proposta, mas dá conta dela.

O cenário de Marcos Flaksman favorece o trânsito de solos pela cena, e o desenho de luz de Maneco Quinderé cria alguns momentos brilhantes.

Para além desses trunfos, "Palácio do Fim" sofre pela dramaturgia bem limitada. Não só porque quer expiar no nível do senso comum a má consciência dos invasores mas porque é superficial na investigação desses seres humanos, cuja capacidade real de cometer e sofrer feitos atrozes é mais relevante do que a mera purgação dos mesmos.

PALÁCIO DO FIM
QUANDO sex. e sáb., às 21h, e dom., às 18h; até o próximo domingo (11)
ONDE teatro Anchieta - Sesc Consolação (r. Dr. Vila Nova, 245, tel. 0/xx/11/3234-3000)
QUANTO de R$ 8 a R$ 32
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO regular

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