Galpão retoma "Romeu e Julieta" para Olimpíada

Esmeralda não via a hora de sair da garagem. A Veraneio bordô, que circulou o Brasil e o mundo carregando a versão do Grupo Galpão e do diretor Gabriel Villela para "Romeu e Julieta", parece não acusar a ação do tempo, mesmo passados 20 anos desde a estreia do espetáculo.

A voz adocicada da atriz Fernanda Vianna, do alto de sapatilhas de ponta, e o encantamento no olhar do colega Eduardo Moreira, encarapitado em pernas-de-pau, também resistem.

Os atores dão vida ao casal da trágica história de amor do dramaturgo William Shakespeare (1564-1616), que está sendo remontada para apresentações durante a programação cultural da Olimpíada de Londres.

"Nós envelhecemos. A história envelheceu? A carne vai, o espírito, não ", afirma Villela, que está em Belo Horizonte reerguendo a produção com os atores.

"Eu tinha muito medo de remontar, pela idade mesmo. Para mim, é fisicamente puxado. Mas estar aqui hoje é uma celebração do teatro, da nossa parceria. É o triunfo da poesia sobre a vida", afirma Moreira.

A montagem, que se tornou referência no teatro moderno brasileiro por seu profundo diálogo com a cultura popular, é uma das 37 peças do autor inglês a serem encenadas no Shakespeare's Globe Theatre, de Londres, onde o grupo já esteve (com críticas entusiasmadas da imprensa local) em 2000. "Por antecipação, já recebemos a medalha", brinca o diretor.

Fora de repertório desde 2003, a peça sempre figurou entre os pedidos ao coletivo mineiro de novas temporadas e marcou a identidade artística tanto do grupo quanto do encenador.

"O Galpão envolveu a obra numa poesia cuja potência desconhecíamos naquela época. Agora, nos ensaios, estou até tendo dificuldade de ser prático nas cenas", comenta Villela.