Índice geral Ilustrada
Ilustrada
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Crítica Comédia

'Habemus Papam' aborda igreja com respeito, mas com coragem

PEDRO BUTCHER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Não são poucos os dramas relacionados à Igreja Católica que causaram polêmica na história do cinema -alguns exemplos são "Je Vous Salue, Marie", de Jean-Luc Godard, "A Última Tentação de Cristo", de Martin Scorsese, e "Amen", de Costa-Gavras.

Mas são raras as comédias que ousaram falar da igreja com irreverência. Federico Fellini está entre os que se arriscaram no terreno no magistral episódio de "Roma" em que imagina um desfile de modas eclesiástico.

"Habemus Papam", o novo filme de Nanni Moretti, tem entre seus méritos a coragem de mexer em territórios "sagrados" com bom humor e equilíbrio respeitosos -porém nunca covardes.

Depois de tentar dar conta da complexa questão Berlusconi no irregular "O Crocodilo" (2006), o cineasta se permitiu ser mais leve e sutil ao imaginar um papa recém-eleito (magistralmente interpretado pelo ator francês Michel Piccoli) tomado por uma crise de pânico.

Totalmente paralisado, ele nem sequer consegue chegar ao púlpito para saudar os fiéis que aguardam ansiosamente o pronunciamento de seu novo líder. Um psicanalista ateu, interpretado pelo próprio diretor, será convocado para pôr fim à crise.

A coragem de Moretti está em levar a câmera a um território proibido. Os primeiros minutos do filme fazem uma reconstituição rica e visualmente fiel dos rituais que se seguem à morte do sumo pontífice, incluindo o secretíssimo conclave -reunião de cardeais para eleger o novo papa, em uma Capela Sistina fechada a sete chaves.

Moretti ousa até mesmo penetrar no pensamento dos cardeais em meio à votação, o que torna a sequência ainda mais divertida. Tudo isso, é claro, causou furor entre os católicos na Itália.

Coragem, no entanto, não seria mérito por si só se Moretti não fosse um grande encenador. É verdade: o roteiro do filme oscila demais em sua preocupação exagerada por não seguir caminhos óbvios.

Como resultado, o esperado embate entre o papa e o psicanalista, entre a fé e a razão, acaba não ocorrendo.

Quando as trajetórias dos dois personagens principais tomam rumos distintos, o filme acaba se perdendo um pouco, para logo reencontrar seu caminho.

HABEMUS PAPAM

DIREÇÃO Nanni Moretti
PRODUÇÃO Itália, 2011
COM Michel Piccoli, Nanni Moretti
ONDE Espaço Itaú de Cinema Frei Caneca, Lumière Playarte
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
AVALIAÇÃO ótimo

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.