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Giacometti focou vazios ao redor das esculturas

Livros lançados agora relacionam pensamento à obra de Paul Cézanne

Autores falam em 'aura atmosférica' em torno das peças e comparam processo escultórico a técnicas da pintura

DE SÃO PAULO

Mesmo que pareçam isoladas, as figuras de Alberto Giacometti não se dissociam do espaço ao redor delas, levando os olhos a percorrer os vazios com a mesma vontade de encarar as esculturas sólidas.

Nos dois livros que saem agora sobre sua obra, os autores Véronique Wiesinger, curadora de sua mostra na Pinacoteca, e David Sylvester, um dos maiores estudiosos do artista, analisam o tratamento do espaço no entorno das figuras como essencial na construção das peças.

"Entre massa e espaço há uma interpenetração", escreveu Sylvester no livro "Um Olhar Sobre Giacometti" (ed. Cosac Naify, R$ 46, 272 págs.). "Há uma espécie de centro e, fora deste, uma sugestão de massa que se dissolve."

Ele fala em "aura atmosférica" de figuras que parecem se expandir e se contrair como um pulmão, obras de um "magnetismo invertido que persuade os olhos a não se fixarem, mas a passearem por cima e ao redor das peças".

"Ele esculpe também o espaço que está no entorno, quase de modo bárbaro, inacabado", diz Wiesinger, que assina o catálogo "Giacometti" (ed. Cosac Naify, R$ 120, 368 págs.). "Existe essa busca por uma realidade além da forma, a tentativa de criar uma arte que fosse viva."

Na obra dos dois autores, essa busca obsessiva pela representação do espaço na escultura de Giacometti é atribuída a sua relação com as pinturas do francês Paul Cézanne (1839-1906).

Tanto em Cézanne quanto em Giacometti, existe uma indefinição dos contornos que separam as formas dos espaços que elas ocupam, uma fusão intencional dos planos. Também há na obra dos dois a busca por uma equivalência entre homem e natureza.

Enquanto o pós-impressionista francês esquadrinhou o mundo em formas geométricas, Giacometti esculpiu seus conjuntos de homens e mulheres esguios como se fossem clareiras e florestas.

Seus bustos lembram rochedos e montes grotescos que culminam na forma rude de rostos quase anônimos, sem expressão nem dono.

Numa aproximação maior com a pintura, ele privilegia a visão frontal das peças, criando esculturas quase inacabadas, em que a parte de trás permanece bruta.

Nesse ponto, uma de suas esculturas, uma chapa plana com um relevo que lembra uma cabeça, também se aproxima da pintura, como se fosse um quadro bidimensional.

Giacometti parecia perseguir mesmo essa ambivalência entre a pintura e a escultura, centrando esforços numa representação pura.

"Tudo que eu conseguir fazer será uma pálida imagem do que vejo", escreveu o artista. "Meu sucesso será sempre menor que meu fracasso ou talvez igual a meu fracasso." (SILAS MARTÍ)

ALBERTO GIACOMETTI
QUANDO mostra abre hoje, às 11h; ter. a dom., 10h às 18h; até 17/6
ONDE Pinacoteca (pça. da Luz, 2, tel. 0/xx/11/3324-1000)
QUANTO R$ 6 (grátis aos sábados)

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