Opinião

Evento não define se é feira livre ou mostra artística

Feira livre ou mostra artística? Como nos últimos anos, o Festival de Curitiba ainda hesita entre assumir-se como um grande centro de vendas, em que pagando se tem espaço, ou fazer jus à pretensão de reunir o melhor que o teatro brasileiro apresenta.

A dúvida é assumida na programação, que distingue a "Mostra Oficial", com espetáculos eleitos pela curadoria, e o "Fringe", em que centenas de produtores se lançam com peças velhas em mercado teatral aquecido.

Neste ano, a Mostra confirma a tendência conservadora dos atuais curadores, que também parecem divididos nesse dilema. Não só pelo pequeno número de estreias nacionais mas pela opção por espetáculos já consagrados no eixo Rio-São Paulo.

Não que não se deva trazer sucessos de público ou de crítica; mas festivais crescem quando arriscam e investem em processos não ainda chancelados e, a partir de "garimpo" em todo o país, apresentam essas novas propostas em primeira mão.

Uma análise fria da seleção de 2012 indica que não estão lá reunidas as mais instigantes pesquisas em curso no Brasil. É uma programação morna, que contempla algumas unanimidades e traz junto muita coisa mediana que, tendo tido estreia no ano passado, não merecia destaque.

Qualquer surpresa ou revelação de algum talento extraordinário fica por conta do Fringe, sufocado por uma maioria de espetáculos comerciais de baixo nível artístico, mas com promessas dos grupos jovens de Curitiba. São artistas que recortam pequenas submostras para não sucumbir à mediocridade.

Essas exceções, que confirmam a opção mercadológica do festival, sugerem um caminho que poderia oxigená-lo, se reunisse o que há de mais expressivo na produção dos grupos experimentais do país, ligados às universidades e escolas de teatro.