Companhia de SP improvisa sobre a tragédia "Ifigênia"

Um jato de areia cai insistentemente de uma cabaça suspensa sobre o palco de "Ifigênia", primeira incursão da Cia. Elevador de Teatro Panorâmico na tragédia grega, que estreia hoje.

O movimento cessa no instante em que se inicia o espetáculo. A imagem representa a falta de ventos que ocasiona a desgraça retratada em "Ifigênia em Áulis", última obra de Eurípedes.

Na adaptação de Cássio Pires, a peça é mais narrativa, mas a história é igual: Agamêmnon, comandante das forças gregas, é impelido a sacrificar sua filha Ifigênia para que a deusa Artemis cesse o período sem ventos. Seu Exército está pronto para atacar Troia; falta apenas o consentimento da divindade.

A protagonista sofre com a sentença de morte, mas se entrega ao sacrifício por compreender que sua vida irá servir à nação. Eurípedes evidencia o embate interior da personagem entre satisfazer sua vontade individual e a do coletivo ao qual pertence.

Marcelo Lazaratto, diretor da Cia. Elevador de Teatro Panorâmico, criada há 12 anos, também investiga a fronteira que divide o individual e o coletivo. Sua intenção, entretanto, ultrapassa a abordagem social. O encenador usa o debate sobretudo para pesquisar a linguagem teatral.

Em suas pesquisas, que já duram 20 anos, Lazaratto desenvolveu o "campo de visão", exercício de improvisação em que os artistas só podem se movimentar quando algum ator ou uma situação dramática entrar em seu campo de visão.

JOGO DE RISCO

O elenco de nove atores vive o desafio de improvisar as oito cenas do espetáculo. "Proponho um jogo coletivo com ações individuais em que os atores podem fazer qualquer personagem", explica Lazzaratto.

"É uma loucura para os atores. Eles têm que fazer as escolhas no momento do jogo. Assumir o tom de um personagem para talvez, no segundo seguinte, atuar como outro. É um trabalho de risco", conclui. (GM)