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Palavra cantada

Em seu novo álbum, Maria Bethânia convoca time de produtores para aproximar ainda mais sua música da poesia

Daryan Dornelles/Folhapress
A cantora Maria Bethania anteontem, nos estúdios da Biscoito
A cantora Maria Bethania anteontem, nos estúdios da Biscoito

MARCUS PRETO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

"E nós aqui, fazendo entrevista pessoalmente, essa coisa tão antiga", disse Maria Bethânia, sorrindo, assim que o gravador foi desligado. "Queriam que eu fizesse tudo pela internet, mas não consigo, não me interesso."

A cantora, 65, acabava de falar de "Oásis de Bethânia", seu novo álbum, que a aproxima ainda mais da literatura -ela, que sempre usou poesia como recurso dramático- sem afastá-la da música.

"Queria criar um disco sozinha, sem estabelecer uma banda, um diretor, um maestro, um produtor. E que, às vezes, não fosse preciso nem haver música para que aquilo soasse música", diz.

Estar sozinha, no caso de Bethânia, significa não contar com Jaime Alem, seu arranjador há mais de 25 anos, comandando a produção.

Alem está em apenas uma faixa. As outras nove foram produzidas por Hamilton de Holanda, Lenine, Djavan, André Mehmari, Maurício Carrilho, Marcelo Costa, Jorge Helder e pela própria Bethânia.

Cada um, ela conta, apenas acompanhava, seguindo com o instrumento sua ideia já pronta de interpretação de cada número do repertório.

Pinçou "Lágrima" (Cândido das Neves) dos anos 1930, sucesso na voz de Orlando Silva. "Calúnia" (Marino Pinto/ Paulo Soledane), dos 1950, gravada por Dalva de Oliveira. E "O Velho Francisco" (Chico Buarque), lançado pelo autor nos 1980. Há também novas de Djavan e do baiano Roque Ferreira.

Pouco antes da entrevista, Bethânia leu nota em jornal carioca dizendo estar nos planos dela gravar oito CDs com canções de Chico Buarque.

"É tudo mentira!", cravou. Seus dois projetos para 2012, ela afirma, são o show de "Oásis de Bethânia" e apresentações de "Bethânia e as Palavras", espetáculo em que intercala (muita) poesia e (pouca) música e com o qual excursiona desde 2009.

Por projeto parecido, um escândalo envolveu o nome da cantora no ano passado. Ela seria a estrela de um blog de poesia, recitando textos em uma série de 365 vídeos. O projeto poderia captar R$ 1,3 milhão via Lei Rouanet.

"Ficaram achando que era uma coisa minha. Não tem nada a ver. Fui convidada como intérprete, igualzinho Gal foi convidada para fazer o disco do Caetano ['Recanto']."

O projeto já existia quando os idealizadores, Hermano Vianna e Andrucha Waddington, surgiram com a ideia, ela diz. Incomodados com a confusão, decidiram abortá-lo.

"Mas meu projeto de poesia continua e é fora disso. Não quero internet misturada. Quando é projeto meu, é ruim de eu voltar atrás, hein?"

Bethânia conta que ouviu só uma vez o disco de Gal Costa, cujas faixas foram escritas por seu irmão, Caetano. "O disco eu acho difícil. Mas é interessantíssima a gratidão que ele tem pela voz da Gal. É lindo ele confiar, tirar ela de uma... Lembrar a ela uma coisa em que ela reina."

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