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Opinião Elegante eternidade do criador ainda anima a criatura PAULO ROBERTO PIRESESPECIAL PARA A FOLHA A "Paris Review", diz Lorin Stein na carta do editor do número 200, sobreviveu a seu próprio destino de revista literária: deveria sair a cada quatro meses e morrer com a geração que lhe deu a luz. "In print" há 59 anos, nem sempre foi regular e quase sempre foi sinônimo de George Plimpton, personagem que por 50 anos garantiu à publicação o charme chamuscado nos cinco anos de gestão de Philip Gourevitch e que ainda hoje cintila, aqui e ali, no comando de Stein. Assim como a Minas de Otto Lara Resende, a "Paris Review "está onde sempre esteve" e como sempre foi: antenas ligadas no novo, olho vivo no velho que vale a pena. Inventou um jeito de entrevistar escritor e inventou muito escritor. As históricas conversas viraram livros e, hoje, no site, dão testemunho do que falo, assim como o talento fulgurante de um John Jeremiah Sullivan, jovem estrela do ensaísmo e um de seus editores especiais. Gosto de imaginar Plimpton, o piradíssimo Harold Doc Humes, o diretor de arte William Pène du Bois e Peter Mathiessen, único sobrevivente do time fundador, pensando a revista no Café de Tournon, Paris circa 1952. Todos americanos, bem-nascidos e candidatos a gênio como o miserável (mas gênio) Joseph Roth, que pouco mais de dez anos antes tinha vivido dois andares acima e também irrigado imaginação naquelas mesas. Mitificação literária? Claro que sim. A revista nasceu disso e assim sobreviveu. Há pouco comprei o número 29, em que se publicou pela primeira vez "Lunar Caustic", de Malcolm Lowry. Folheá-la é ter noção de sua importância: ela pulsa tanto na troca de cartas entre Lawrence Durrell e Henry Miller, que morrera naquele 1963, quanto nos anúncios, que misturam a revista literária "Olympia" e o caretíssimo Plaza Athénée. Pois a mistura de boêmia e burguesia é a cara de George Plimpton, que foi a "Paris Review" como Flaubert foi Emma Bovary. Destemido repórter de esportes, intelectual na medida em que um editor pode sê-lo, "charmeur" profissional, foi personagem a tal ponto que Nathan Zuckerman, "alter ego" de Philip Roth, passa páginas de "O Fantasma Sai de Cena" lamentando sua morte. "Se alguém houvesse me perguntado: [...] Qual de seus contemporâneos vai não apenas escapar da morte mas também escrever de modo espirituoso, preciso e modesto sobre sua própria perplexidade bem-humorada por ter conseguido atingir a vida eterna?' a única resposta possível teria sido: 'George Plimpton'". Plimpton foi-se em 2003, aos 76. E sua criatura sobrevive, meio perplexa, creio, por sua discreta e elegante eternidade. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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