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Crítica / Ciência

Ciência faz Universo parecer mágico, diz biólogo britânico

Novo livro de Richard Dawkins, de 'O Gene Egoísta', responde perguntas que crianças fazem sobre o mundo

REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR DE “CIÊNCIA E SAÚDE”

Usar o clichê "recomendado para crianças dos oito aos 80 anos" deveria dar cadeia, certo? Pois ponham-me a ferros: é esse o milagre (apesar de o autor não acreditar em milagres) que "A Magia da Realidade", de Richard Dawkins, consegue operar.

O termo "criança" é chave porque, no livro, Dawkins realiza o difícil truque de começar do zero, explicando conceitos básicos do funcionamento do Universo e da vida para o público jovem, ao mesmo tempo em que não subestima a inteligência do leitor de nenhuma maneira.

Só para continuar no nível dos clichês, é à criança dentro de cada um dos leitores que Dawkins se dirige.

O zoólogo britânico, um dos maiores divulgadores da teoria da evolução e ateu convicto, quer recuperar a sensação de maravilhamento diante do cosmos que quase todo mundo tem quando é pequeno.

As perguntas que ele se propõe a responder são as que as crianças fazem. O que é o Sol? Por que existem noite e dia, inverno e verão? O que é um arco-íris?

Além de explicar cada um desses fenômenos (o que fez na prosa mais límpida e livre de jargões imaginável), o cientista tem um objetivo mais amplo. Como diz o título do livro, ele quer mostrar que o mundo é bem mais mágico do que a imaginação humana pode conceber.

Para isso, ele começa os capítulos com as explicações mitológicas tradicionais de cada fato da natureza, tiradas das mais diversas culturas, e passa ao que a ciência realmente sabe sobre aquilo.

As belas ilustrações de Dave McKean, que fazia as capas da série de quadrinhos "Sandman", ajudam um bocado a criar o clima de magia.

SÓ PARA SER CHATO

Se há um defeito nesta pequena joia de livro, trata-se do que poderíamos chamar, um tanto pedantemente, de falta de empatia antropológica -revelada pelo estratagema de contrapor os mitos "burros" do passado à explicação científica correta dos fenômenos naturais.

O ponto de vista de Dawkins e dos demais papas do neoateísmo é simples: mitos podem ser boas histórias, mas não acrescentam nada ao arsenal humano de explicações sobre o mundo.

Admitir que a mitologia tem algum valor nesse sentido, ou que ela pode, em algum nível, complementar o conhecimento científico seria absurdo.

Como ironizou certa vez o neurocientista Sam Harris, "seria o mesmo que dizer que a crença na possessão demoníaca nos ajuda a entender a esquizofrenia e outras doenças mentais".

Ok, Harris provavelmente está certo quanto a isso. Mas, ao se concentrar apenas na superfície pitoresca ou ridícula dos mitos, Dawkins esquece que eles podem funcionar como mapas do significado do mundo -e em especial das relações humanas- para uma cultura.

Para ficar no exemplo mais óbvio, a narrativa sobre Adão e Eva na Bíblia tem pouco a ver com maçãs e serpentes e muito a ver com questões como transgressão, maturidade e responsabilidade. É um tantinho míope não ver isso.

A MAGIA DA REALIDADE
AUTORES Richard Dawkins, com ilustrações de Dave McKean
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 54 (272 págs.)
CLASSIFICAÇÃO ótimo

FOLHA.com
Leia trecho do livro em
folha.com/no1069457

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