Crítica Cinema

"Xingu" tem o sentido épico de quem procura entender o país

De todos os partidos por que poderia optar, talvez o de "Xingu" seja o mais feliz: traçar a trajetória de três irmãos, os Villas Bôas.

Temos aí três linhas promissoras: a ideia de aventura, um grupo de irmãos que não se satisfaze com a vida urbana, todos os perigos (físicos e intelectuais) do contato com outras culturas.

Ao mesmo tempo, Cao Hamburger invade um território que nos é pouco familiar: o da épica. Dominamos a épica negativa. Mas a aventura dos Villas Bôas não se encaixa nessa definição.

Aqui, trata-se de deixar para trás não só a sua cultura como os preconceitos que a acompanham. Entrar em contato com as tribos, mas também minimizar o contato, evitar a aculturação das tribos até o ponto possível.

A trajetória dos Villas Bôas será ambígua. Por vezes farão o papel do "branco bom" que serve à penetração do "branco mau". Noutros momentos, chegarão a vitórias importantes, como a criação do Parque do Xingu.

Dito isso, existe o filme propriamente dito. O partido épico remete ao faroeste, claro.

O Xingu é o nosso Velho Oeste. E as armadilhas para um filme quase inaugural eram muitas.

A primeira delas, claro, a macumba pra turista: o filme entupido de exotismos. Foi evitado: não se vê uma cobra no filme inteiro. A segunda, o "boy meets girl" que o filme de massa brasileiro parece achar, até hoje, que era a finalidade dos Lumière quando inventaram o cinema. Também foi evitada.

"Xingu" tem o sentido épico de um filme que procura entrar e compreender a entranha do Brasil.

Ao se fixar nos irmãos, "Xingu" fixa, também, a atitude de homens que buscaram aliar ideias à ação.

É o que, para além das ambiguidades, os torna tão especiais, num filme também especial.

XINGU

DIREÇÃO Cao Hamburguer

ONDE Espaço Itaú e circuito

CLASSIFICAÇÃO 12 anos

AVALIAÇÃO ótimo