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Crítica Não Ficção

Villas Bôas enfrentaram duas décadas de provações para criar uma doce república

MARCELO LEITE
EDITOR DE OPINIÃO

"Quando o Brasil em geral fica difícil de aturar, eu fecho os olhos um instante e me refugio no pedaço do Brasil onde corre o Tuatuari." Para Antonio Callado se arriscar a tamanho elogio, o lugar deve ser mágico.

De fato. O Tuatuari é só um riachinho, avisa Callado, mas forma "o poderoso Xingu". Às suas margens, os irmãos Villas Bôas -Orlando, Claudio, Leonardo- fincaram a sede do recém-criado Parque Indígena do Xingu (PIX).

Isso foi em 1961, contudo, por ato do presidente Jânio Quadros (numa de suas excentricidades mais admiráveis). Constituiu a grande vitória dos três irmãos paulistas, que 18 anos antes se faziam passar por sertanejos goianos para serem aceitos na Expedição Roncador-Xingu (ERX), lançada em 1943.

Antes de chegarem ao PIX, a trinca e um punhado de caboclos e pilotos enfrentaram quase duas décadas de provações -onças, muriçocas, fome, flechas, morte- para abrir 1.500 km de picadas e 19 campos de pouso, a machado, foice e enxada. Quatro dessas pistas se tornariam bases militares (incluindo a famigerada Cachimbo).

É essa a epopeia narrada nas mais de 600 páginas de "A Marcha para o Oeste": miudezas e prodígios, de carrapatos aos 18 povos com que a expedição travou primeiros contatos e que por ela foram "pacificados". Calapalos, txucarramães, iaualapitis, caiabis, icpengues e panarás.

"Os Villas Bôas", como assinavam suas exasperadas mensagens de rádio, escrevem de maneira aborrecida, como inventariantes. Os últimos dez quilos de arroz. O motor do rádio que enguiça. O avião que não chega.

São aparências, no entanto. Ou fruto da impaciência de quem se habituou a consumir narrativas frenéticas.

À medida que se sucedem tipos sertanejos, cercos de índios entre a hostilidade e a submissão, desafios e modas de viola, o leitor se toma de carinho por tanta dedicação.

Há grandeza nessa forma de vida. Os Villas Bôas perseguiam o exemplo do marechal Cândido Rondon, um ideal de congraçamento -com índios e a natureza- que caiu em desuso neste Brasil difícil de aturar.

Siga o conselho de Darcy Ribeiro: "Agarre este livro com as duas mãos, com a cabeça e com o coração".

A Marcha para o Oeste

AUTORES Orlando Villas Bôas e Claudio Villas Bôas

EDITORA Companhia das Letras

QUANTO R$ 63,00

AVALIAÇÃO bom

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