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Vanessa vê TV

VANESSA BARBARA

vanessa.barbara@uol.com.br

Uma arroba de abraços

Uma das coisas boas da vida é saber que há inúmeros universos funcionando de forma paralela e independente de nós, com suas regras próprias, linguagem, lendas, vilões e heróis.

Isso vale para áreas complexas como a astroquímica no Brasil e também para temas prosaicos, como o setor dos parafusos, da escultura em legumes, dos tocadores de pífano, dos fãs de "Star Trek", dos praticantes de vôlei e entusiastas do latim.

Sempre quis falar, por exemplo, das dançarinas bamboleando atrás do Faustão -quem são elas, quais são suas motivações e angústias? Quem é a mais invejada? Quem revolucionou a área?

Dito isso, foi com prazer que me vi perdidamente envolvida no mundo da criação do gado nelore, iniciando-me num leilão de muares que passou ao vivo no Canal Rural.

Foram quase quatro horas de portentosos bovinos desfilando na tela enquanto compradores davam seus lances por telefone e um especialista pecuário descrevia os atrativos de cada lote. Fiquei tão fascinada que foi preciso tirar o telefone de perto, ou agora mesmo teria um novilho pastando no meu quintal.

Em pouco tempo, entendi o básico: a venda era de prenhezes, em que se exibia a vaca grávida e sua previsão de parto. Forneciam-se os detalhes da gestante, sua genealogia e se gerou descendentes célebres.

Scarlat I, por exemplo, era uma vaca de grande consistência em sua progênie. "Ô, vaca maravilhosa!", exclamou o leiloeiro, dizendo ser "pigmentada, feminina e com a caixa de crânio linda". Ela chacoalha o papo, como se concordasse.

Identificava-se também o touro - não raro, o desgovernado Bitelo SS, campeão absoluto de paternidade.

"São prenhezes destacadas e de grandes matrizes, oriundas de um legado sagrado da raça nelore do Brasil", exclamou o leiloeiro Aníbal Ferreira, emocionado.

Na abertura dos trabalhos, lamentou a ausência do criador Ronaldo Alves, um homem, um mito, que cedo aprendeu "a discernir o certo e o errado na criação do zebu". Ele estava ausente pois esperava a chegada de um neto -humano, e não bovino.

Fui cativada pela prenhez da Sérvia 9, uma pechincha -24 parcelas de R$ 500-, rês de qualidade que estava sendo subestimada, apesar de "maravilhosa por dentro e por fora".

Já Backiana era uma vaca com ótima habilidade maternal, muito comprida e mimosa.

Não comprei, mas foi quase.

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