Peça 'Eclipse' foge de abordagem naturalista

O projeto "Viagem a Tchékhov", uma imersão na obra do autor russo realizada pelo grupo Galpão desde 2010, rendeu seu segundo fruto: a peça "Eclipse" foi apresentada entre os trabalhos que encerraram ontem o Festival de Curitiba.

A primeira montagem do projeto também estreou no festival -na edição do ano passado. Era "Tio Vânia", peça com direção de Yara de Novaes. Quem assina o novo trabalho é o russo Jurij Alschitz.

O espetáculo já havia sido apresentado no ano passado em curta temporada em Belo Horizonte. Mesmo assim, por conta de um processo de amadurecimento, foi incluso como uma das estreias nacionais na grade da mostra oficial. Fez três apresentações, entre sexta e ontem.

A concepção cenográfica entrega de cara: o espetáculo não permanece no fio naturalista que marca parte das montagens de Tchékhov. Uma imensa porta, em uma parede disposta obliquamente do lado esquerdo do palco, delimita o campo onírico traçado para o desfile de personagens extraídos principalmente de contos.

Boa parte da pesquisa do grupo neste trabalho tem como foco a lapidação de uma interpretação que também foge do estilo naturalista.

Assim como faz no Akt-zent International Theater Centre, centro de pesquisa que coordena em Berlim, Jurij cria dramaturgia e cena a partir de adaptações propostas pelos atores envolvidos com o trabalho.

O mote é um eclipse, fenômeno natural simbolizado por uma luz potente que vem do "backstage".

O fechamento lento da grande porta encobre a iluminação.

A partir de então, os personagens passam a refletir sobre suas existências, divagando sobre a vida e o talento dos criadores (leia-se artistas) e daqueles que, no espetáculo, são referidos pela expressão "o homem comum".

Segundo Chico Pelúcio, ator do Galpão, o espetáculo deve ser levado para São Paulo no segundo semestre.