Música - Crítica Pop

Rufus Wainwright desembarca no pop com disco ensolarado

Às primeiras audições de "Out of the Game", tem-se a impressão de que um dia Rufus Wainwright acordou e pensou "por que diabos eu devo me contentar em ser um músico 'indie', de alcance médio, se tenho talento para chegar a plateias maiores?"

Se o intento será alcançado com esse sétimo disco da carreira, não se sabe. Mas há cacife para tanto.

O álbum de apurado senso pop, produzido por Mark Ronson, deixa de lado as orquestrações grandiloquentes -que sempre tiveram um pezinho no kistch, é verdade- dos trabalhos anteriores. O resultado torna ainda mais palatável a voz afinada do cantor.

Em torno dela, ouvem-se arranjos simples e bem executados por músicos talentosos como o guitarrista Nick Zinner (Yeah Yeah Yeahs) e o grupo The Dap-Kings, que acompanha a cantora de soul Sharon Jones. O disco também teve participação de Martha, irmã do cantor, e de Sean Lennon.

Mas, apesar da guinada sonora, algumas marcas de Wainwright se mantiveram intactas.

As letras continuam irônicas e de viés poético (não piegas), versando sobre amor, felicidade, a paternidade recente e até zombando da indústria fonográfica e do público. Vide a canção-título do disco, assumida por ele como desbragada ironia, posto que agora entrou no jogo do pop.

Além dessa, que abre o álbum, destacam-se "Rashida", flerte com o soul retrô; "Welcome to the Ball", em que canta "me deixe segurar sua mão / que eu te levo à terra prometida"; "Montauk", com óbvias referências autobiográficas ao falar de uma filha e de dois pais; e "Song for You", que parece um lado B do Radiohead.

"Out of the Game" é, sobretudo, um disco ensolarado, dançante até, fruto de uma parceria exitosa entre um produtor que respeitou os elementos fundamentais da obra de um artista e um compositor que se permitiu explorar uma seara distinta de sua obra, mas com o talento e a dedicação de sempre.

Rufus conseguiu o que queria: soar pop como nunca antes.