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Crítica Drama Personagem excepcional reforça traços de mediocridade em ritmo do filme RICARDO CALILCRÍTICO DA FOLHA O risco de fazer um filme convencional sobre um personagem excepcional é que a mediocridade da obra costuma ser reforçada por essa contradição. É um problema que "Diário de um Jornalista Bêbado" não consegue contornar, a não ser em um par de cenas. O filme de Bruce Robinson ("Os Desajustados") baseia-se em "The Rum Diary", segundo romance do jornalista e escritor norte-americano Hunter S. Thompson, escrito no começo dos anos 1960 e publicado apenas em 1998. Thompson (1937-2005) ficou celebrizado como o criador do "jornalismo gonzo", em que o repórter descarta qualquer pretensão de imparcialidade e objetividade para mergulhar na ação e criar uma narrativa pessoal sobre determinado acontecimento. Uma de suas reportagens mais famosas foi levada ao cinema em "Medo e Delírio" (1998), de Terry Gilliam, com Johnny Depp como alter ego de Thompson. O ator repete agora esta função, desta vez encarnando o escritor no início de sua carreira, durante passagem por Porto Rico. Paul Kemp (Depp) troca Nova York pelo paraíso caribenho para tentar a sorte como jornalista free-lancer, no final dos anos 1950. Ali ele se apaixona pelo rum local, por alucinógenos obscuros e pela estonteante Chenault (Amber Heard), noiva de um empreendedor imobiliário. Diferentemente de Gilliam, que tentou encontrar traduções visuais para o estilo de Thompson em "Medo e Delírio", Robinson parece satisfeito apenas em ilustrar a narrativa do autor com imagens. E, mesmo com essa opção modesta, seu filme avança sem estabelecer um ritmo para o encadeamento dos episódios e, mais grave, sem descobrir o conflito central de seu protagonista. Dessa forma, a conversão de Kemp -de observador alcoolizado da realidade caribenha a artista revoltado com as injustiças sociais- acaba soando abrupta e artificial. Para compensar, há um ator no papel principal disposto a correr os riscos em sua caracterização que o diretor não quis assumir no conjunto da obra. Em duas ou três cenas de humor e alucinação, Depp mostra o que o filme poderia ter sido, com um pouco mais de liberdade. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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