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Longe dos olhos

Retrospectiva de Ernesto Neto no México joga luz sobre carência de espaços para individuais de grande porte no Brasil

Mario Guzmán/Efe
Obra do carioca Ernesto Neto no Antiguo Colegio de San Ildefonso
Obra do carioca Ernesto Neto no Antiguo Colegio de San Ildefonso

FERNANDA MENA
ENVIADA ESPECIAL À CIDADE DO MÉXICO

"O Brasil não faz, mas o México fez", brincava o carioca Ernesto Neto nas últimas horas de montagem da mostra panorâmica de seus 25 anos de produção artística, aberta no último domingo na capital mexicana.

A brincadeira, no entanto, revela um desencanto comum entre artistas brasileiros contemporâneos: reconhecidos internacionalmente, eles são objeto de grandes exposições na Europa, nos Estados Unidos -e recentemente também no México- que não chegam ao Brasil.

"São muitos os artistas brasileiros que tiveram suas primeiras grandes mostras panorâmicas fora do Brasil, como Hélio Oiticica, Lygia Clark, Cildo Meireles, Lygia Pape e, agora, Ernesto Neto", enumera Adriano Pedrosa, curador da mostra mexicana "La Lengua de Ernesto Neto" (a língua de Ernesto Neto).

Ele reuniu mais de cem obras (esculturas, instalações e desenhos), algumas inéditas, em 2.000 metros quadrados do Antiguo Colegio de San Ildefonso, espaço mantido pelo governo federal num edifício do século 18, no centro da Cidade do México.

"Foi emocionante revisitar trabalhos meus nunca expostos e que são muito importantes para a construção da minha linguagem", diz Neto. "De certa forma, minha história está nesta mostra."

São peças de grande proporção, que necessitam de espaços generosos -predicado que falta às instituições do eixo Rio-São Paulo. Atualmente, poucas poderiam hospedar uma mostra dessa magnitude. E aquelas que dispõem de espaço raramente o dedicam a um só artista.

Daniel Roesler, diretor da galeria Nara Roesler, frisa que a produção nacional atual sempre se destaca em eventos internacionais de arte, como a feira mexicana Zona Maco, encerrada anteontem na Cidade do México. Mas, opina, "parece que o circuito institucional de arte no Brasil não tem acompanhado a vitalidade dos artistas do país".

A ausência de mostras mais amplas desses artistas no país poderia ser parcialmente suprida pela presença de suas obras em acervos com acesso público permanente.

Museus como o MAM-SP têm obras importantes de brasileiros contemporâneos, mas não a área requerida para sua exibição permanente.

"Hoje, quem quiser ver Ernesto Neto, Helio Oiticica ou Cildo Meireles no Brasil tem que ir a Inhotim", diz Alessandra D'Aloia, vice-presidente da Associação Brasileira de Arte Contemporânea.

A instituição privada em Brumadinho (60 quilômetros de Belo Horizonte) dá acesso público e permanente a obras importantes desses nomes.

"O Brasil tem muito a aprender com o México, onde colecionadores milionários criaram fundações para expor suas obras publicamente, como a coleção Jumex, a mais importante da América Latina hoje ", avalia a galerista Maria Baró, também presente à Zona Maco.

"Falta essa consciência aos colecionadores de São Paulo. Abrir suas coleções é formar público, artistas e curadores para o mesmo mercado que lhes interessa", conclui.

A jornalista FERNANDA MENA viajou a convite da feira Zona Maço

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