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Crítica / Documentário

"Girimunho" extrai poesia do sertão mineiro

Longa de Helvécio Marins Jr. e Clarissa Campolina narra efeitos da instabilidade e da inquietude nos habitantes de um povoado

ALCINO LEITE NETO
ARTICULISTA DA FOLHA

Nos últimos anos, o documentário no Brasil desenvolveu uma linguagem bem mais forte e relevante do que a dos filmes de ficção.

Uma das razões disso é o fato de a TV ter impregnado de tal forma a dramaturgia brasileira que as imagens da ficção no cinema parecem quase sempre variações dos clichês das telenovelas.

Por isso, "Girimunho", que já recebeu três prêmios no exterior, nos festivais de Havana (Cuba) e Nantes (França), merece ser visto com atenção.

Misto de ficção e documentário, o filme busca um modo de contar histórias do país que rejeita as fórmulas dramáticas hegemônicas.

Nele, os diretores Helvécio Marins Jr. e Clarissa Campolina reencenam o cotidiano de um povoado no sertão mineiro, tendo os próprios habitantes como atores.

LINHAGEM

Filiam-se, assim, a uma antiga linhagem cinematográfica -dos ancestrais Robert J. Flaherty (1884-1951) e F.W. Murnau (1888-1931)-, que refloresceu no trabalho de realizadores atuais, como o iraniano Abbas Kiarostami ou o português Pedro Costa.

Ao contrário de Kiarostami, porém, os diretores brasileiros evitam sobrepor a sua própria narrativa às que já estão dadas pelo dia a dia dos "personagens".

E, diferentemente de Pedro Costa, eles têm um trato mais poético do que político do universo abordado.

CONFLITOS

As imagens iniciais mostram uma agitada festa no povoado, ao som convulsivo de um batuque. O que se vê depois, entretanto, é um lento fluir das coisas, como se o tempo fosse parar.

Como ele não para, uma série de conflitos emerge no lugar: entre a estagnação e o movimento, o silêncio e o discurso, a juventude e a velhice, a morte e o giro incessante da vida.

A beleza de "Girimunho" provém do rigor da observação, do modo como os diretores conseguem captar e descrever os efeitos da instabilidade e da inquietude nos habitantes daquele lugar no fim de mundo.

Talvez se possa extrair daí a dimensão política do filme: neste esforço de Helvécio Marins Jr. e Clarissa Campolina de buscar no sertão miserável um poema sobre o desassossego e a mudança.

GIRIMUNHO
DIREÇÃO Helvécio Marins Jr. e Clarissa Campolina
PRODUÇÃO Brasil/2011
ONDE Cinesesc
CLASSIFICAÇÃO livre
AVALIAÇÃO bom

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