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Francis contra o mundo

Jornalista, que escrevia freneticamente sobre vários temas, implodiu limites entre informação e opinião e cultivou desafetos com veia mordaz

DE SÃO PAULO

Em 10 de dezembro de 1980, a reportagem de capa da "Ilustrada" registrava a morte de John Lennon, ocorrida na noite da antevéspera. Era assinada pelo correspondente da Folha em Nova York, Paulo Francis.

A abertura seguia os padrões de uma notícia tradicional: "John Lennon [...] foi assassinado à uma hora da manhã (hora de Brasília) de ontem, por um vagabundo, Mark David Chapman, que disparou nele seis tiros de um revólver 38, acertando cinco".

O autor implodia os limites entre informação, opinião, análise e palpite, num exemplar amálgama narrativo.

Escreveu que os seguranças do prédio "provavelmente, como é frequente em Nova York, estavam bêbados ou dormindo". Chamava Chapman de "a nova celebridade" e a viúva, Yoko Ono, de "a aventureira japonesa".

"Todo mundo está faturando [...]. É a sociedade de consumo, em seu aspecto mais grotesco."

"Diário da Corte", o título da nova antologia, é como se chamava a coluna de Francis na "Ilustrada".

Mas, lembra o organizador Nelson de Sá, os textos só saíam sob esta rubrica quando dava na telha do titular, que escrevia em profusão e sobre qualquer tema para todas as seções do jornal (8.000 artigos em 15 anos, média de 1,4 por dia).

Francis já trabalhara no "Diário Carioca" (como crítico teatral), na "Última Hora", no "Correio da Manhã", no "Pasquim" e na "Tribuna da Imprensa" quando, em 1975, foi chamado pelo então diretor de redação, Cláudio Abramo, para ser correspondente da Folha em Nova York.

As primeiras crônicas eram dominadas por relatos e críticas sobre a sociedade americana. Aos poucos, ele aumentaria o foco sobre temas brasileiros.

A partir dos anos 80, Francis ganhou projeção nacional e apurou a veia mordaz que distinguiria sua carreira.

Mordacidade que se manifestou em embates até com colegas de jornal -entre 89 e 90, após o ombudsman Caio Túlio Costa fazer reparos a um artigo de Francis, os dois travaram uma discussão visceral nas páginas do jornal (leia acima)- e que às vezes beirava a intolerância.

Num artigo em que contava de sua irritação com um garçom "crioulo" em Nova York, escreveu: "Pensei logo numa chibata".

Fazia previsões apocalípticas sobre políticos e ideias que combatia. Dizia que, se Lula virasse presidente, o Brasil viraria um caos. E que, se os negros tomassem o poder na África do Sul, haveria uma carnificina.

(FABIO VICTOR)

DIÁRIO DA CORTE
ORGANIZAÇÃO Nelson de Sá
EDITORA Três Estrelas
QUANTO R$ 59,90 (408 págs.)

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