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Livro lembra gênio irascível de John Fante

Filho expõe relação tumultuada com autor de "Pergunte ao Pó" em volume de memórias que acaba de ser publicado nos EUA

Guias em Los Angeles oferecem passeio por cenários presentes em obras do escritor e de Charles Bukowski

FERNANDA EZABELLA
DE LOS ANGELES

"John Fante não era um cara legal." A afirmação vem de um de seus filhos, Dan, 68, com quem o autor de "Pergunte ao Pó" (1939) e "Espere a Primavera, Bandini" (1938) só foi se dar bem 30 anos depois de nascido o garoto.

"Meu pai teve muito azar, mas ele também construiu sua própria má sorte. Era um homem muito difícil, insultava pessoas. Não era nada político", diz Dan à Folha, numa conversa no restaurante Musso & Frank, o mais antigo de Hollywood, frequentado pelo pai e pela nata literária desde os anos 1930.

As memórias tumultuadas da relação pai-filho estão no livro "Fante - A Family's Legacy of Writing, Drinking and Surviving" (legado de escrita, bebida e sobrevivência de uma família, em tradução livre; Harper Perennial, US$ 15, cerca de R$ 30, na amazon.com).

A obra mistura a jornada de John Fante (1909-1983), dividido entre os gordos cheques dos estúdios de cinema e o foco na carreira literária, e a jornada de Dan Fante, não menos interessante, encarando vários trabalhos estranhos em Nova York e Los Angeles.

Ambas as trajetórias são encharcadas de álcool, mas sem o glamour das peripécias de Arturo Bandini, alter ego de John Fante.

"Havia muita informação errada sobre meu pai. Diziam que foi Charles Bukowski (1920-1994) quem o redescobriu, mas não é verdade. Quem insistiu foi Ben Pleasants, e Bukowski demorou para ajudá-lo", diz Dan, sobre o então editor de poesia do "Los Angeles Times", que recuperou as obras de Fante nos anos 1970.

"Pergunte ao Pó" vendeu apenas 3.000 exemplares quando lançado originalmente, porque o editor não tinha dinheiro para divulgá-lo, já que travava uma batalha jurídica por publicar "Mein Kampf", de Adolf Hitler, sem permissão do autor. Em 1980, veio a reedição com prefácio de Bukowski.

"Eles tiveram uma grande amizade, mas meu pai nunca entendeu o oba-oba em torno do trabalho de Bukowski. Meu pai não lia poesia, e a poesia de Bukowski era brilhante; seus romances, nem tanto."

Dan está há 25 anos sóbrio. Foi aos 47, ao voltar a viver com a mãe e sem um centavo no bolso, que ele achou a máquina de escrever do pai na garagem e resolveu rascunhar alguma coisa. Hoje, tem 11 livros publicados, a maioria com ótimas resenhas.

TOUR LITERÁRIO

Quase nada resta atualmente em Los Angeles do distrito de Bunker Hill, onde John Fante morou quando solteiro e que usou como cenário para várias tramas de Bandini, como em seu último romance, "Sonhos de Bunker Hill", ditado para a mulher quando já estava cego.

A empresa Esotouric, que promove passeios literários na cidade, faz um "tour Fante" uma vez ao ano. O mercado onde Bandini comprava laranjas ainda existe, assim como o trenzinho Angels Flight.

Há, com mais frequência, o "tour Bukowski", que passa por uma de suas casas em Hollywood, hoje patrimônio da cidade, e também pelo Pink Elephant, sua loja de bebidas favorita.

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