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Produtor de "Tropa" retoma tema das drogas

Marcos Prado, de "Estamira", estreia na ficção com longa sobre viagens mentais de jovens frequentadores de raves

Diretor concebeu filme em meados dos anos 2000, quando traficantes de classe média foram presos

ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
DE SÃO PAULO

Em "Paraísos Artificiais", todos se drogam. O tempo inteiro. Ácido, maconha e cocaína são passagens (às vezes só de ida) para estados mentais alucinados. Toma-se ecstasy como quem devora um pacote de balas de hortelã.

Desde que rave é rave é assim: o circuito da música eletrônica é pano de fundo para falar de drogas, sobretudo sintéticas.

Os protagonistas Erika (Nathalia Dill) e Nando (Luca Bianchi) vão do ensolarado Nordeste à gélida Amsterdã atrás de experiências que mudem suas vidas. Ora para o bem, ora para o mal.

Marcos Prado sabia o que queria ao escolher o tema de seu primeiro longa de ficção. Em 2004, ele já havia feito "Estamira", documentário sobre a moradora de um lixão que era uma viagem à parte.

A ideia surgiu em meados dos anos 2000. Coisa de "pai careta". "Na época, estavam prendendo aquelas gangues de traficantes de classe média. E eu tinha um filho de 15 anos e certa preocupação com que tipo de drogas ele iria usar."

Decidiu, então, pesquisar quem eram os novos sócios do clube inaugurado em tempos imemoriais. Ao mesmo tempo, se via a toda hora diante da mesma encruzilhada: "Será que estou sendo moralista? Será que estou fazendo apologia?"

Como produtor de "Tropa de Elite" (2007), ele ouviu um bocado. De aplausos, pelo sucesso de público, mas também de acusações, vindas da ala que tachava o filme de "fascista" e "moralista".

A obra retratava a hipocrisia da elite universitária, crítica da truculência policial, mas sem conflito de consciência em se valer do tráfico.

"Não acho moralismo, não. Acho realista. A bala perdida sobra para os coitados da favela", diz Prado. "A gente comprando nosso bagulho aqui, trancadinho em casa... É conivente. Plante em casa, grite na passeata da maconha, pô."

O NOME NÃO É JOHNNY

No longa de agora, Prado não queria ser "careta ou pudico" nem fazer um tratado sobre violência urbana.

Sua ficção alinha-se mais a "Meu Nome Não É Johnny" (2008), em que Selton Mello interpretava um "playboy" que vira traficante internacional. O personagem de Luca Bianchi começa o filme saindo de quatro anos na prisão. E pelo mesmo motivo.

O cineasta se define como alguém "que já teve passado", mas hoje é fiel apenas à "cervejinha". Momento bem diferente daquele vivido por seus personagens, impulsionados pelo desejo de maximizar tudo o que vivem.

"Este jovem poderá viver 180 anos, com toda a evolução da medicina. Mas aí [vem a profecia de que] o mundo acaba agora, em 22 de dezembro, ou [a alegação de que] a Terra está derretendo, e o que fazem? 'Pô, vou viver intensamente. Futuro? Que futuro? Tá maluco?'"

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