Crítica documentário

"Sonhos em Movimento" remonta com maestria as emoções de Pina Bausch

O documentário "Sonhos em Movimento" (Tanzträume) é um ótimo complemento ao filme "Pina", do cineasta Wim Wenders.

Enquanto o diretor de "Asas do Desejo" (1987) realiza uma poética homenagem à coreógrafa Pina Bausch (1940-2009), explorando todas as potencialidades do 3D, "Sonhos" apresenta os bastidores de uma produção, revelando seu método de trabalho.

Com direção de Anne Linsel e Rainer Hoffmann, o documentário registra a remontagem da peça "Kontakthof" (pátio de encontros), criada pela coreógrafa em 1978.

Em 2000, Bausch remontou a peça apenas com idosos acima de 65 anos e, oito anos depois, com adolescentes entre 14 e 18 anos. No filme de Wenders, as três gerações se misturam, sem maiores explicações, o que torna mais tocante essa mescla.

Bausch dizia que sua intenção, ao refazer o espetáculo, vinha do tema da peça: o desejo de estar com o outro.

Em "Sonhos", com os adolescentes, isso adquire ares de um rito de iniciação, já que poucos tiveram uma relação amorosa intensa ou exploraram a nudez do sexo oposto, por exemplo. O documentário, corretamente, aborda as situações decorrentes dessas dificuldades.

Mas a figura central do filme, além da própria Bausch, é Josephine Ann Endicott, que ensaia os adolescentes.

Bailarina do elenco original e uma das principais figuras da companhia de Bausch, ela representa perfeitamente toda a obsessão da coreógrafa na encenação dos sentimentos humanos.

Para Bausch, esses sentimentos se expressavam em detalhes, do jeito de abrir a boca à maneira de se tocar o corpo do outro.

No documentário se constata, e essa é uma de suas principais qualidades, que Bausch tornou-se uma das principais figuras da arte no século 20, porque provou que é no corpo que se encarnam os sentimentos.