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Fotos vetadas de Nan Goldin são expostas no Recife

Série ficou de fora da retrospectiva cancelada no Oi Futuro no ano passado e que acabou exibida no MAM-RJ

Artista americana, que causou polêmica por mostrar crianças nuas, retrata infância como momento utópico

SILAS MARTÍ
ENVIADO ESPECIAL AO RECIFE

Na visão da fotógrafa americana Nan Goldin, a infância é um terreno livre, de festas e fantasias mal ajambradas, da descoberta da dor e também de alguns prazeres.

São imagens de grávidas, bebês e crianças, muitas vezes nus, que povoam as fotografias da artista, agora expostas na Fundação Joaquim Nabuco, no Recife.

Essa série, "Fire Leap", ficou de fora da recente retrospectiva de Goldin no Museu de Arte Moderna do Rio -mostra que levantou polêmica em 2011 ao ser cancelada pelo Oi Futuro, onde deveria acontecer, e acabou transferida para o MAM-RJ.

Na época, a controvérsia girava em torno de imagens em que crianças apareciam nuas ou expostas a situações eróticas entre adultos.

Mas, na exposição do Recife, esses retratos de infância surgem em outro contexto, livre de conotações sexuais e mais próximo da noção do início da vida como uma espécie de utopia.

"É a infância como lugar simbólico, em que outros futuros são possíveis", diz Moacir dos Anjos, curador da exposição. "Ela mostra isso como um território de potências, de vidas possíveis."

OUTROS OLHARES

Exibida na Fundação Joaquim Nabuco ao lado de trabalhos dos artistas visuais Cao Guimarães e Paula Trope, a obra de Goldin surge quase como exceção à regra.

Guimarães filma da janela de seu quarto dois garotos que brincam de luta numa rua bastante enlameada.

Eles alternam momentos de agressões e pausas para recuperar o fôlego, muitas vezes se atracando no barro debaixo de uma chuva fina.

Não é um retrato da miséria, como surge nos registros desfocados de Paula Trope, mas exibe uma infância mais agreste, à beira da fúria, e sem compromisso com nada que não seja o presente, um campo vasto e sempre deixado ao improviso.

Nesse território paralelo, outro vídeo de Guimarães mostra um menino que parece perdido na multidão de uma festa folclórica.

O garoto imita a dança dos adultos fantasiados, abraça e ao mesmo tempo confronta um mundo de cores e sons estridentes, como se moldado por aquele ambiente naquele instante.

Trope mostra crianças marcadas por uma violência real. São garotos que engraxam sapatos na rua, pedem esmolas, cheiram cola e imitam as coreografias dos bailes funk.

Usando câmeras "pinhole", que deixam borradas as margens da imagem e mergulham os depoimentos numa aura de baixa definição, a artista parece replicar a alienação de personagens sofridos.

Longe da utopia de Goldin, de crianças abastadas e saudáveis, imersas no amor de seus pais, Trope descerra um olhar sobre os meninos esquecidos da metrópole.

Estão entre a beleza e o caos, uma infância de rotas mais do que cerceadas rumo à vida adulta.

O jornalista SILAS MARTÍ viajou a convite da Fundação Joaquim Nabuco.

INFÂNCIA

QUANDO de ter. a dom., das 15h às 20h; até 12/5
ONDE Fundação Joaquim Nabuco (r. Henrique Dias, 609, Recife; tel. 0/xx/81/3073-6691)
QUANTO grátis

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