Crítica Drama

Redford deixa o significado preceder a fruição do enredo

QUANDO NÃO SE MANEJA MUITO BEM a QUESTÃO DA OPINIÃO PÚBLICA NO CINEMA, OS FILMES "ROLAM QUADRADO", CASO DE "CONSPIRAÇÃO"

Maus atores costumam dar bons diretores de cinema, dizia Rubem Biáfora. Robert Redford se dedica a demonstrar por absurdo a teoria do crítico paulista: trata-se de um bom ator, no caso, e de alguém com presença institucional importante (como criador do festival de Sundance).

De tempos em tempos, porém, Redford ressurge com um filme acadêmico, caso de "Conspiração Americana". Estamos no fim da Guerra de Secessão (1861-65). O presidente Lincoln vai ao teatro, onde é assassinado. Conclui-se, então, que o crime resultou de uma conspiração.

Logo se descobre que o lugar onde tramavam era a casa de Mary Surratt, mãe de um dos conspiradores. Para chegar a ela, rasga-se a Constituição americana. Mas será isso tão importante numa hora emocional como essa?

Estamos com dez ou 15 minutos de filme e já sabemos o final. Não "como termina". Muito, muito pior: qual o seu sentido. Fica claro que Redford não fala de Lincoln nem da Secessão, mas das Torres Gêmeas e de Guantánamo.

O problema não são as atrocidades de Guantánamo, tema tão digno de ser explorado quanto qualquer outro, mas o fato de o significado do filme preceder a sua fruição.

Talvez seja mesmo difícil falar diretamente sobre o assunto. Sabe-se que a América está pouco ligando se houver cem inocentes em Guantánamo, contanto que consigam pegar um culpado.

Mas o desenvolvimento do filme se dá de tal forma que tanto os esforços do advogado em defesa da lei como o destino da acusada acabam por nos parecer indiferentes.

Estamos diante daquela velha história de "opinião pública". Quando não se maneja muito bem a questão no cinema, filmes "rolam quadrado". Como aqui.