Filhos fazem tributo a Elis Regina e João Nogueira

Os repertórios da cantora Elis Regina (1945-1982) e do compositor João Nogueira (1941-2000) inspiram apresentações que seus filhos Maria Rita e Diogo Nogueira, respectivamente, realizam, em São Paulo, no mesmo fim de semana da Virada Cultural.

maria rita

'Não estudei Elis para este show, apenas a ouvi'

DE SÃO PAULO

Desde que surgiu para o público brasileiro, em 2002, Maria Rita evitava se deparar com o repertório da mãe.

Só agora, com carreira consolidada, ela se sentiu confortável para a empreitada. Depois de passar por Rio, Porto Alegre, Recife e BH, o show "Viva Elis!" chega a São Paulo, em única apresentação, amanhã. (MP)

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Folha - Por dez anos, você evitou o repertório da Elis. Agora, que a turnê chega à reta final, pergunto: doeu?

Maria Rita - Não me arrependo de não ter me aproximado da minha "mãe-cantora" nestes dez anos de estrada, mas essa distância era muito cruel. Ela é minha mãe antes de ser a Elis. Confesso que pensei que eu fosse sofrer e chorar mais. Mas estou leve. Como se um pedaço de mim tivesse se reencontrado. A maturidade do público em saber discernir e aceitar as semelhanças e as diferenças ficou mais gritante nesse período.

Agora você falou como filha. E como cantora?

Não é coisa pequena encarar esses hinos, ainda mais porque viraram hinos na voz dela. Eu me apeguei demais ao repertório, isso é fato. Entendi melhor a genialidade da cantora Elis Regina durante os ensaios, entendi melhor aquele momento glorioso da música nacional. Entendi melhor algumas letras, me encontrei em tantas outras.

A intenção era reforçar a lembrança de Elis nos ouvidos do Brasil. Dá para medir a eficiência dos shows nisso?

O retorno imediato das pessoas nas redes sociais é emocionante. Estou salvando todos os comentários sobre ela que jogam no meu Twitter para compilar um dia e guardar -para ela.

O que eles dizem? E o que você mais tem ouvido na imprensa, nas redes sociais, do porteiro do prédio...?

O porteiro do meu prédio disse que não quer mais saber de Iron Maiden, só quer ouvir "Madalena". As redes sociais me colocam em contato com a neta e a avó que foram juntas ao show, com o garoto de oito anos que implorou para o pai criar um perfil no Twitter para poder falar comigo. Isso me toca. A única bobagem que li foi que teria me inspirado num figurino de show de minha mãe para o meu próprio -o que não é verdade. Afinal, não estudei Elis para esse show. Eu apenas a ouvi.

maria rita

QUANDO amanhã, às 15h

ONDE parque da Juventude (av. Cruzeiro do Sul, 2.630, próx. à estação Carandiru do metrô)

QUANTO grátis

CLASSIFICAÇÃO livre

"Confesso que pensei que eu fosse sofrer e chorar mais. Mas estou leve. Como se um pedaço de mim tivesse se reencontrado"

MARIA RITA, cantora e filha de Elis Regina

diogo nogueira

'É um passado de que o brasileiro se esqueceu'

DE SÃO PAULO

Idealizador do "Sambabook" -projeto que reúne livro de partituras, biografia, CDs e DVD com reinterpretações da obra do compositor-, Diogo Nogueira faz três shows em São Paulo cantando exclusivamente o repertório do pai, João Nogueira (1941-2000). (MP)

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Folha - Encarar o repertório de seu pai em um show inteiro é algo que lhe cause desconforto ou ansiedade?

Diogo Nogueira - De jeito nenhum. Lido com isso com a maior tranquilidade. Sempre cantei as músicas dele, desde o início da minha carreira. Quando meu pai morreu, eu já tinha completado 19 anos. Então ele era meu amigo, meu companheiro também na música.

Você vai apresentar especificamente as canções dele regravadas por vários artistas no "Sambabook", projeto que você ajudou a conceber. Já pensa em novos volumes?

Vamos fazer o mesmo com vários artistas -inclusive os vivos, como Martinho [da Vila], Paulinho [da Viola], Monarco, Almir Guineto e Zeca [Pagodinho]. João foi o primeiro não porque é meu pai, mas porque é uma referência para todos esses.

Shows de Maria Rita têm como meta reforçar a lembrança de Elis nos ouvidos do Brasil. É o que você pretende?

É muito mais do que isso. Estamos fazendo um movimento em favor do país. Os jovens nas escolas conhecem mais a cultura americana do que a nossa. Quisemos trazer a musicalidade dele, tão carioca, para essas pessoas. É um passado de que o brasileiro se esqueceu com muita facilidade. É o nosso chão.

A geração mais nova passou a se interessar por Elis quando Maria Rita surgiu. A filha revelou a mãe a pessoas que não a conheciam. Com você acontece coisa parecida?

Com certeza. Muitos jovens conhecem meu pai porque foram assistir ao meu show. E há os mais velhos, que vêm me ver com saudade do meu pai. Fico feliz em satisfazer a todos.

Pretende seguir com a turnê?

Temos recebido muitas propostas. Mas minha carreira tem de correr junto. E pretendo lançar um DVD e um disco de inéditas até o fim do ano. Então estou fazendo uma agenda que concilie todas as coisas.

diogo nogueira

QUANDO hoje e amanhã, às 21h; dom., às 19h

ONDE Auditório Ibirapuera (av. Pedro Alvares Cabral, s/nº, portão 2, tel. 0/xx/11/3629-1075)

QUANTO ingressos esgotados

CLASSIFICAÇÃO livre

"Sempre cantei as músicas de meu pai. Quando ele morreu, eu já tinha 19 anos. Então ele era meu companheiro também na música"

DIOGO NOGUEIRA, cantor e filho de João Nogueira