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Crítica romance

Livro é peça-chave no esforço de Glauber em redescobrir o Brasil

"Riverão Sussuarana", obra do cineasta lançada em 1978, ganha nova edição

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

A morte precoce de Glauber Rocha, em 1981, aos 42 anos, aprofundou o processo de elitização de sua obra. Com ele morto e convertido em mito, a abordagem de sua produção ficou concentrada no meio acadêmico, de onde às vezes se liberta para assustar uma cultura que queria mantê-lo no mausoléu.

Depois de a maioria da criação cinematográfica do autor baiano ter voltado a circular em cópias restauradas em DVD e de seus textos teóricos-históricos ganharem reedição bem cuidada, chega a vez do retorno do OVNI "Riverão Sussuarana".

O texto, publicado em 1978 pela Record, está sendo relançado pela Editora da Universidade Federal de Santa Catarina, acompanhado de artigos que iluminam suas peculiaridades.

Em cartas escritas na época da publicação, Glauber definiu "Riverão Sussuarana" como "romanceiro". Talvez seja mais apropriado chamá-lo de romance-rio, dada a abundância de referências que nele convergem, os fluxos intermitentes de consciência ou inconscientes que arrastam o leitor.

A convergência mais evidente encontra-se no título, também nome do protagonista, no qual o autor adapta o termo de significado cíclico usado por James Joyce e o ajunta ao universo linguístico e físico de Guimarães Rosa, como o Liso do Suçuarão de "Grande Sertão: Veredas".

Junto a isso, o hibridismo de ficção, memórias e história familiar com experimentação verbal e ortográfica não torna nada fácil a vida de quem busca clareza.

Um exemplo: "Dentro da garrafa tanajuras vagalumes piuns pias luxque fuxzafixicoz kóz formigareira Rosa nominava raças da noite corriam pros ventres capinais quando o sol levantava outro dia no sertão quixeraquiquim lajedais refulgente boiadahoroscopicopichor horizontilómiado Riverão...".

Pode-se interpretar a recorrência de Joyce e Rosa nos temas e na abundante recriação de linguagem como pastiche de estilo. Ou pode-se identificar nela a expressão literária da "montagem de atrações", segundo os princípios de Eisenstein, referência do cinema de Glauber.

Antes, porém, de combustível para querelas intertextuais, a volta do livro se impõe como pedaço fundamental do quebra-cabeças.

A proximidade cronológica entre sua publicação, o retorno do exílio, a atuação de Glauber como apresentador do programa "Abertura" e a gestão do último longa, "A Idade da Terra", faz desse romance-rio uma peça-chave para compreensão do último e imenso esforço glauberiano para redescobrir o Brasil.

RIVERÃO SUSSUARANA
AUTOR Glauber Rocha
EDITORA UFSC
QUANTO R$ 39 (264 págs.)
AVALIAÇÃO bom

Leia trecho do livro em
folha.com/no1085500

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