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Sónar SP reinventa o Anhembi para shows e exclui guitarras da nova música de vanguarda

Levi Bianco / Brazil Photo Press / Folhapress
Apresentação em 3D dos alemães do Kraftwerk, na sexta
Apresentação em 3D dos alemães do Kraftwerk, na sexta

LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA
ADRIANA FERREIRA
EDITORA ASSISTENTE DA “ILUSTRADA”

O conceito de "música avançada" que o Sónar SP despejou desde sexta à noite na cabeça dos paulistanos nos leva a duas conclusões rápidas ao sair já na manhã do domingo do festival.

Primeira: o malfadado Anhembi tem solução como espaço (um dos únicos) para grandes eventos musicais na capital, com algumas correções de logística em sua organização. Isso é um avanço para a música na cidade.

Segunda: o rock realmente não faz parte dessa "vanguarda" propagada pelo Sónar, festival importado desde Barcelona e que teve só o grupo escocês Mogwai como "representante das guitarras" entre cerca de 50 atrações.

A atração mais "rock" do evento paulistano de 2012 foi o duo Justice, que usa em sua house francesa uma forte linha de baixo e um som sintetizado e distorcido, em volume alto -o chamado "maximal"-, que, pelo menos no caso da dupla, continua eficiente em fazer roqueiros simpatizarem com a eletrônica.

Outras "lições" do Sónar: o hip hop é o atual melhor amigo da eletrônica (leia texto nesta página), o som grave é o novo agudo, o dubstep já impregnou tudo e até o drum'n'bass, ao contrário de que pensam, não morreu.

SHOWS

As principais atrações desta edição do festival eram os alemães do Kraftwerk e o norte-americano Cee Lo Green. A vocação e importância do evento, no entanto, devem ser medidas pelos detalhes, nas atrações de menor porte.

O Sónar foi erguido a partir da cultura de DJs e de sons eminentemente eletrônicos.

O ancião grupo alemão Kraftwerk, içado à condição de atração de última hora graças ao cancelamento da cantora Björk, mostrou na sexta-feira que a experiência de vê-los ao vivo entrega cada vez mais a ideia de que eles não são uma banda fazendo show, e sim quatro atores em um musical deles mesmos.

Quatro senhores de pé diante de uma mesa "estação de trabalho", fazendo o papel ora de homem, ora de máquina operando uma usina nuclear em Dusseldorf.

Com um espetáculo visual no telão imenso atrás, as canções que são tocadas incrivelmente não parecem velhas -em que pese as versões mais modernizadas (remixadas, pesadas) de algumas.

O "visual de fundo" foi feito de imagens em 3D, um artifício modernizante dos anciões da eletrônica, com a plateia toda usando 15 mil óculos, vendo números saltarem do telão, braços dos homens-máquinas se estenderem a ponto de abraçar-nos, satélites em rota de colisão com nossas cabeças.

A apresentação foi um recorte brasileiro dos shows que o grupo protagonizou em série recentemente no MoMA, em NY. O Kraftwerk em si é um museu de arte moderna.

No sábado, Cee Lo Green decepcionou. Enquanto a plateia esperava os hits de sua carreira solo e a visita clássica ao repertório do Gnarls Barkley (que aconteceu com uma versão mirrada de "Crazy"), ele reuniu no palco o seu antigo grupo de rap, o Goodie Mob.

A atitude do cantor deixou o público perdido, já que os rappers não são conhecidos por aqui. Já a banda de apoio, parece ter sido formada ao acaso há menos de uma semana: toda descompensada. Quando ele cantou "Fuck You", seu grande sucesso, o show já estava pelas tabelas.

ANHEMBI

Concentrado em um só lugar (a primeira edição, de 2004, foi dividida entre o Instituto Tomie Ohtake e o Credicard Hall) e com cerca de 15 mil pessoas circulando por noite, o Sónar reinventou com êxito o Anhembi para shows.

Esqueceu o problemático (e feio) Sambódromo, vendido como "Arena Anhembi", fez do galpão de eventos seu palco principal (palco SónarClub), redescobriu o auditório Elis Regina para atrações mais intimistas (palco SónarHall). Virou "indoor".

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