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Produção de Otavio Cury segue legado de seu bisavô

"Constantino" traz a investigação do passado literário de seu ancestral

Documentário mostra história de um dos pilares do teatro sírio e é destaque da 7ª Mostra Árabe de Cinema

DIOGO BERCITO
DE SÃO PAULO

Um livro antigo pesa suas quase 500 páginas sobre as mãos de Otavio Cury, 40.

Escrito em árabe, é um objeto misterioso, inacessível ao cineasta. Mas o intriga.

Essa é a herança deixada a ele pelo bisavô sírio Daud Constantino Cury, que imigrou a São Paulo em 1926.

É também a pedra angular de que parte o documentário "Constantino", destaque da 7ª Mostra Árabe de Cinema, com abertura em 25 de junho.

O filme acompanha Cury conforme ele investiga o passado do bisavô e a obra que ele deixou como um legado.

O cineasta recebeu o livro "Obras Completas do Mestre Daud Constantino Cury" em 2001, durante viagem a Homs, cidade síria de onde vem sua família -hoje, o local é bastião do levante contra o ditador Bashar Assad.

Ele não suspeitava que o tomo, entregue a ele por acaso, existisse. Também tinha poucas pistas de que o bisavô havia sido um dos pilares do teatro sírio.

JARDIM INTERNO

"Constantino" reúne, além de imagens históricas de Homs anteriores aos bombardeios, cenas filmadas em vilas fantasmas sírias, entre construções arruinadas.

Há também uma constante "dimensão de palco", nas próprias palavras de Cury.

O cineasta aparece como personagem, conforme investiga o livro. Aparece também vestido em figurino de época.

Há palco inclusive no sentido literal: um teatro romano em ruínas, e então imagens de encenação da peça "Princesa Geneviève", em texto de seu bisavô, por uma companhia de teatro síria.

Cury explora o tema da representação em diversos níveis. Recurso bastante afim com a questão que permeia, silenciosamente, seu filme.

"Descobrir um antepassado que foi poeta cria uma referência para a família", diz. "Mas encontrei um homem diferente do que esperava."

Afinal, diz Cury, apesar do que ele pudesse esperar no íntimo, o bisavô Constantino "não era um grande poeta".

O cineasta teve, assim, de romper a barreira do mito e abandonar a vontade primeira -a de glorificar o bisavô. Para, em seguida, lembrar-se de que "no Oriente, a primeira camada nunca vale", diz.

"Por fora, todas as casas são iguais", afirma Cury, referindo-se à arquitetura tradicional árabe, marcada mais por jardins internos do que por fachadas exuberantes.

O "jardim interno" de Constantino, por assim dizer, era a força histórica. "O fato de ele romper com a barreira da escuridão otomana lhe garantiu respeito", afirma Cury.

Constantino era discípulo de Abu Khalil al Qabbani, dito o pai do teatro sírio. Por meio do livro, descobriu que "Princesa Geneviève" foi escrita pelo discípulo Constantino, e não, como se pensava, por seu mestre Al Qabbani.

Essas foram descobertas feitas aos poucos, conforme estudava árabe. "Eu não teria um filme, se tivesse compreendido o livro. O documentário é uma resposta a essa sensação de dificuldade."

Ansiedade e angústia estão presentes em "Constantino", conforme Cury procura, por meio de um objeto, entender quem foi o bisavô que ele não chegou a conhecer.

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