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Censurar diários de Che é "enganação", diz biógrafo

Escritor confirma a supressão de relatos do guerrilheiro na edição cubana

Centro de estudos do país eliminou trecho que conta a execução de dois inimigos durante a Revolução Cubana

FLÁVIA MARREIRO
DE SÃO PAULO

A supressão de trechos do diário de Che Guevara durante a guerrilha em Cuba, feita pelo centro de estudos sobre o argentino em Havana para a publicação de um livro, é uma "enganação histórica".

Quem diz é o biógrafo de Che, Jon Lee Anderson, que teve acesso a seus cadernos disponíveis -há tomos oficialmente desparecidos- para escrever o seu "Che Guevara - Uma Biografia", cuja primeira edição apareceu em 1997 e agora foi relançada em versão revista pela Objetiva.

Ao menos dois trechos dos diários -duas passagens em que Che executa pessoas durante a campanha para derrubar Fulgencio Batista, em 1959- foram retiradas do "Diário de um Combatente", lançado no ano passado em Cuba e neste mês no Brasil, pela editora Planeta.

A edição foi feita pelo Centro de Estudos Che Guevara em Havana, dirigido pela viúva do guerrilheiro, Aleida March. Um dos trechos censurados foi o da execução de Eutimio Guerra, o primeiro traidor identificado pelo grupo de Che e Fidel Castro.

REVISIONISMO

"É lamentável. À lupa da história, a execução de Eutimio foi um momento super importante. Foi o tiro que demonstrava que a revolução era para valer", disse Anderson em entrevista à Folha.

"Não sei o que temem. Foi um crime? Não foi um crime. Isso é o que se faz em uma guerra. Não é bonito, mas acontece. A partir desse momento, se endurece a revolução e se começa a usar a lógica clássica das guerrilhas."

Uma nota de "Diários" avisa que trechos serão suprimidos por conter juízos de valor "circunstanciais" feitos pelo guerrilheiro, no calor da batalha e entre ataques de asma de 1956 a 1958.

"Cuba não é como outros países. Um punhado de pessoas decide o que os demais vão saber", segue. "Esperava-se que 53 anos depois pudessem ser consequentes com a sua própria história. O bonito dos diários de Che Guevara é que mostram ele antes de ser homem público."

O jornalista da revista americana "New Yorker" diz que "não sabia o que esperar" da edição preparada pelo centro cubano, mas afirma que a operação de retirar trechos não chega a surpreender.

Ele conta que, até meados de 2000, os cubanos jamais haviam visto uma foto de Che Guevara morto na Bolívia, em 1967. "Quem não aparece morto, segue vivo."

FOLHA.com
Leia íntegra da entrevista
folha.com/1090079

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