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Crítica comédia Texto não consegue materializar no palco o cinema de Fellini LUIZ FERNANDO RAMOSCRÍTICO DA FOLHA Teatro não é cinema. "Il Viaggio", espetáculo que adapta para a cena roteiro nunca filmado de Federico Fellini (1920-1993), busca sem sucesso atingir a poesia dos filmes do cineasta italiano. O texto encenado foi escrito por Marcelo Rubens Paiva, como livre adaptação do original. Fellini começou a escrever "Il Viaggio de G. Mastorna" em 1965 e chegou a retomar o roteiro em 1992. A história é a de um músico que, depois de sofrer um acidente aéreo nos Alpes, vê-se numa cidade com nome igual ao seu, onde os habitantes agem de forma estranha e parecem conhecer os detalhes de sua vida. A estratégia dramática de Paiva, sem contar com recursos do cinema, foi concentrar o desenvolvimento da trama na sequência de diálogos que Mastorna trava com a fauna de personagens esquisitos que encontra, apimentando-os com piadas e situações da comédia de pastelão. A opção converge com a reunião, pelo diretor Pedro Granato, de atores especialmente preparados para o improviso cômico, no registro do circo e da palhaçada. São esses desempenhos histriônicos, sobretudo os de Bete Dorgan, Esio Magalhães (Mastorna) e Helena Cerello, que sustentam o espetáculo. Mas a ambição de evocar o universo felliniano, em que o ridículo e o lírico se combinam de forma mágica para tornar-se grande arte, se frustra. Na ausência de narrativa cênica fluida, em que os absurdos sucedidos se imantem numa fábula arrebatadora, a trama aqui, intencionalmente confusa, se rarefaz em momentos de pieguismo. Talvez como cinema o roteiro funcionasse, talvez sua fragilidade explique nunca ter sido filmado. O uso de cenas dos filmes de Fellini pela direção, apropriando-se delas por meio da dublagem para contar a saga de Mastorna, se diverte, não resolve as dificuldades da encenação. A despeito do inegável talento dos atores, e de seu capricho cenográfico, "Il Viaggio" não realiza o milagre que ambiciona: materializar na cena o cinema de Fellini.
IL VIAGGIO |
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