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Coleção ilumina desilusões de Saramago

Escritor desvela, em "Ensaio sobre a Lucidez", a ameaça do autoritarismo oculta sob as promessas da democracia

Romance, que chega às bancas no domingo, é 7º volume de seleção que reúne 25 autores ibero-americanos

DE SÃO PAULO

"Se começássemos a dizer claramente que a democracia é uma piada, um engano, uma fachada, uma falácia e uma mentira, talvez pudéssemos nos entender melhor", disse o escritor português José Saramago (1922-2010) certa vez em entrevista.

Não estranhe o leitor, portanto, que seja em sua visão crítica em relação às instituições políticas que se baseie "Ensaio sobre a Lucidez", romance escrito em 2004 e sétimo volume da Coleção Folha Literatura Ibero-Americana, que chega às bancas no próximo domingo.

Na capital de um país sem nome, chove torrencialmente no dia da eleição, o que faz com que poucos eleitores compareçam ao pleito. As autoridades chegam a prever uma abstenção em massa.

Remarcado o dia da votação, milhares formam filas, mas para votar em branco, utilizando a democracia para manifestar sua indignação.

É dessa "reapropriação" do poder cívico que trata a obra, uma referência clara ao seu "Ensaio sobre a Cegueira", de 1995. O peso indireto das distorções políticas aqui se apresenta tal como a epidemia que se abate sobre os personagens daquele livro.

Ao narrar as providências do governo para entender as razões da "epidemia branca", o autor completa sua alegoria da fragilidade dos rituais democráticos, da política e de suas instituições.

Saramago, porém, não propõe a substituição da democracia por um sistema alternativo de governo, mas a sua permanente vigília.

É através da ficção que o português entrevê uma saída para suas desilusões. E é a potência simbólica da literatura -território em que reflexão, humor e arte se tornam armas de resistência- que se revela capaz de vencer o monstro cego da ignorância.

Em sua obra, o Nobel de Literatura de 1998 buscou desenvolver uma crítica ácida às instituições: sob o véu de promessas da democracia, enxergava os vetores do autoritarismo -lúcido é quem os consegue perceber.

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