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Italiano mira fixação por reality shows

Matteo Garrone, diretor do elogiado "Gomorra", mostra em Cannes longa-metragem protagonizado por ator que está preso há 20 anos

Aniello Arena, cotado para prêmio de atuação masculina, encarna sujeito pré-selecionado para "Big Brother"

RODRIGO SALEM
ENVIADO ESPECIAL A CANNES

Caso o júri do Festival de Cannes resolva premiar a interpretação do ator italiano Aniello Arena, em "Reality", é bom não contar com a presença do agraciado na cerimônia de entrega do troféu.

A razão é simples, mas surpreendente: Aniello Arena está na cadeia há 20 anos por assassinato.

Apesar da sentença de prisão perpétua, Arena fundou, em 2001, uma companhia de teatro para prisioneiros chamada La Fortezza.

O trabalho foi tema de documentários na Itália, como "A Scene Chiuse ­- Esperienze dal Teatro in Carcere", e chamou a atenção do diretor Matteo Garrone.

"Tentei levá-lo para atuar em 'Gomorra', mas o juiz não deixou", lembra o cineasta, sobre as filmagens de sua produção anterior, de 2008, sobre a máfia napolitana. "Mas não tinha nada a ver com o tema do longa."

Coincidentemente, o assunto abordado em seu novo filme, uma comédia sobre reality shows, é bem mais ameno, e o ator recebeu permissão para filmar durante o dia em Nápoles.

Mas o juiz não permitiu que Arena viajasse para a França no intuito de promover "Reality", exibido em Cannes ontem, na competição oficial.

Como se o fato de o ator estar sendo seriamente cotado para o prêmio de interpretação masculina não fosse curioso o suficiente, ele encarna, em "Reality", um homem obcecado pelo desejo de ficar preso, mas dessa vez na casa do programa "Big Brother".

"Depois de 'Gomorra', eu estava procurando um filme tão poderoso e diferente quanto aquele e percebi que estava batendo com a cabeça na parede", diz o cineasta.

"Meu objetivo não é criticar a televisão, mas um aspecto da sociedade. Apenas queria contar uma história simples, sem precisar entregar respostas."

SUBCELEBRIDADES

"Reality" é uma fábula neorrealista, se é que isso é possível. Luciano, o personagem de Arena, é um trambiqueiro nas horas vagas, um vendedor de peixes no emprego oficial e o comediante das festas da família.

Quando é pré-selecionado para o "Big Brother", entrega-se a uma espiral de loucura que envolve a família e o gênero de pseudocelebridade que os brasileiros conhecem bem do "BBB" nacional.

Pode ser uma comédia de poucos risos, mas nem por isso deixa de ter momentos poderosos, como a cena em que Luciano dorme ao lado de sua mulher assistindo a um sutil ménage à trois no "Big Brother" -instante exato em que começa a perder a sanidade.

O sexo debaixo das cobertas e a obsessão dos participantes do reality pela fama são traços que a audiência brasileira conhece de cor.

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