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Crítica / Drama

Reygadas se afoga em pretensão com mistura de fatos e sonhos

PEDRO BUTCHER
ENVIADO ESPECIAL A CANNES

Pessoal e erudito, o cinema de Carlos Reygadas é um corpo estranho no atual panorama latino-americano, o que justifica sua presença constante em Cannes.

Os quatro longas do diretor mexicano foram exibidos no festival: "Japão" (2002) na Quinzena dos Realizadores, e "Batalla en el Cielo" (2005) e "Luz Silenciosa" (2007) na competição oficial. Agora, seu "Post Tenebras Lux" também entra na disputa pela Palma de Ouro.

O estilo de Reygadas é marcado por contradições profundas. Obcecado pela obra de dois cineastas europeus (Carl Dreyer e Robert Bresson), o diretor tenta conciliar suas formas rigorosas às questões de seu país.

No belo "Luz Silenciosa", que venceu o Prêmio do Júri em 2007, Reygadas levou a obsessão por Dreyer às últimas consequências ao recriar a obra-prima do dinamarquês ("Ordet", de 1955) em cenário mexicano.

Em "Post Tenebras Lux", a referência a Dreyer é bem mais tímida e desponta apenas no título, expressão em latim adotada como lema pela reforma protestante, particularmente pelo calvinismo (que, por sua vez, era uma obsessão de Dreyer).

O filme tem como espinha dorsal um casal que optou por viver no campo.

A tranquila vida cotidiana dos protagonistas, em determinado momento interrompida pela violência, é mostrada sobretudo do ponto de vista dos filhos pequenos (em várias sequências, a câmera assume o ponto de vista das crianças).

Mas essa "historinha" é entrecortada por imagens enigmáticas, como um jogo de rúgbi, uma orgia em uma sauna francesa e um Diabo vermelho, criado em animação digital, que atravessa uma casa com uma maleta (real).

O fato de Reygadas ter rodado o filme em um formato incomum (4 x 3, mais próximo do quadrado do que do tradicional retângulo) e com uma lente que distorce as bordas da imagem sugere que ele não pretendia diferenciar fatos de sonhos.

Mas, ao contrário de seus trabalhos anteriores, em que os elementos contraditórios se combinavam com mais ou menos força, "Post Tenebras Lux" desponta apenas como uma peça pretensiosa, que prima pela obscuridade.

POST TENEBRAS LUX
AVALIAÇÃO regular

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