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"O eurocentrismo morreu", diz Darnton

Historiador que dirige a biblioteca de Harvard afirma que a cultura da América Latina e dos EUA ofusca a Europa

Autor americano, que participa de debate em SP, defende digitalização de grandes acervos e critica leis de direito autoral

LUCIANA COELHO
DE WASHINGTON

O historiador americano Robert Darnton está elétrico. Seu trabalho atual -dirigir a maior rede de bibliotecas universitárias do planeta, a de Harvard- passa por uma revolução ante a missão de criar uma megacoleção de livros e documentos on-line sediada nos EUA e aberta ao mundo.

Como estudioso da Revolução Francesa e da cultura da Europa, esse autor prolífico de 73 anos vê os desdobramentos da crise na produção cultural da Europa. Seu diagnóstico é de que esta passa por um período de exaustão.

No Oriente Médio, observa a Primavera Árabe, passar do "fervor utópico" à consolidação e à construção. "É menos dramático, mas é promissor."

Antes de embarcar para o Brasil para participar hoje do Congresso Internacional Cult de Jornalismo Cultural, em São Paulo, Darnton conversou com a Folha.

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FOLHA - Há na Europa em crise claros sinais de insatisfação política. Como o sr. avalia o momento e quais os paralelos históricos?
Robert Darnton - Há uma crise de confiança que tem base na economia, mas vai além: há dúvida sobre o futuro da Europa em si. Há sinais de descontentamento nas pequenas comunidades, com as unidades políticas fundamentais, nacionais ou europeias, questionadas.
As pessoas estão refletindo sobre o lugar da Europa no mundo e pensam em países como o Brasil, a Turquia, a China. Quando vou à Europa, noto uma sensação de exaustão, de ficar para trás.

A percepção de importância persiste, mas a autoestima parece afetada. Faz sentido?
Sim, é uma sensação de não estar mais no fast-track da história, não só na economia. Quando eles veem a literatura, o cinema e a música que vêm da América Latina, a vitalidade do outro lado os ofusca. O eurocentrismo morreu. Não que a cultura europeia tenha se esgotado, mas os norte e latino-americanos são hoje mais centrais.

A exaustão vem de onde?
Um ponto é a educação superior. As universidades italianas estão um caos, com doutorandos indo embora; a Alemanha tenta manter seus centros de excelência, mas tem seminários para turmas de cem pessoas, inviáveis.
Há um declínio de aprendizagem que se reflete na sociedade. Quando vejo pessoas na Europa cometerem erros gramaticais, é um sintoma da deterioração cultural.

Que papel cultural cabe aos emergentes, tão renegados?
Há mais interesse nos EUA pela América Latina. Na Europa, havia certa condescendência, mas nos EUA era ignorância. Agora há uma mudança no centro de gravidade cultural e, acho, haverá mais colaboração entre a América do Norte e a do Sul. O português não se disseminou como o espanhol, mas há uma vitalidade cultural no Brasil que fascina os americanos.

Qual o futuro das bibliotecas?
O acesso aberto. Recebi a missão de criar a Biblioteca Pública Digital da América, para a qual vamos digitalizar coleções de todas as grandes bibliotecas do país e usá-las de base para uma grande coleção de livros, manuscritos, filmes, gravações e canções disponíveis de graça para o mundo. Estreamos em abril.

É um debate especialmente intrincado nos EUA.
O debate foi dominado por Hollywood, preocupada com filmes e música, não com a herança cultural. Nossa primeira lei de direitos autorais, de 1790, seguia a britânica: 14 anos renováveis por 14. A lei hoje (que protege os direitos durante a vida do autor e por mais 70 anos após a sua morte) supera um século, é absurdo. A questão é como mudar isso com esse Congresso.
Precisamos de uma estratégia que abra caminho para a digitalização em massa na comunicação.

PALESTRA COM ROBERT DARNTON
QUANDO hoje, às 19h
ONDE Tuca (r. Monte Alegre, 1024, tel. 0/xx/11/3670-8453)
QUANTO R$ 800 para todas as atividades do congresso

Leia a entrevista completa em
folha.com/no1096772

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