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Mostra no Rio destaca produção visceral de artistas da Amazônia

Rodrigo Braga, que está na próxima Bienal de São Paulo, e Berna Reale despontam na região

Exposição no CCBB tem obras de artistas que trabalharam na selva, como Cildo Meireles e Claudia Andujar

SILAS MARTÍ
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Um homem grita sozinho no meio da floresta amazônica. Uma mulher nua coberta de vísceras de boi vira uma mesa de banquete para uma revoada de urubus famintos.

Ele é Rodrigo Braga, de Manaus. Ela é Berna Reale, de Belém. São duas das vozes mais potentes na arte contemporânea feita hoje na região Norte, zona quase intocada pelo alvoroço de museus, feiras e leilões que tomou o país nos últimos anos.

O grito de desespero filmado por Braga no meio do arquipélago fluvial das Anavilhanas, no rio Negro, chega agora ao Rio com o registro da performance de Reale, que passou horas bicada pelos urubus do mercado Ver-o-Peso, na capital do Pará.

Em tempos de disputa no governo em torno do Código Florestal e às vésperas da conferência Rio+20, uma exposição no Centro Cultural Banco do Brasil tenta fazer um ambicioso recorte, com cerca de 300 obras, da produção artística da Amazônia.

Mas quase nada na exposição assume tons panfletários de discurso ecológico.

Estão em jogo questões de imobilidade social, violência e a instauração da modernidade na região, que começou com a chegada de cartógrafos no século 18, passou pela economia da borracha no século seguinte e hoje tem a Amazônia como um capital biológico a ser explorado.

"É outro universo cultural, de cores estridentes, padrões indígenas", resume Paulo Herkenhoff, curador da mostra. "Eles falam de um Brasil profundo com grande sofisticação cromática e, ao mesmo tempo, certa precariedade."

Nesse ponto, Reale vê de perto as vítimas de uma terra violenta. Ela divide seu tempo entre o trabalho como artista e a função de perito criminal na polícia de Belém.

De tanto ver cadáveres, Reale armou uma performance em que saía pelas ruas da cidade pendurada como uma carcaça e carregada por homens, presa numa haste de aço. Depois, inventou a ação com urubus no Ver-o-Peso.

"Esse é um lugar de fartura e miséria, tem prostituição, trabalho infantil", diz Reale. "É um recorte do país."

Braga, o homem do grito, também já se enterrou amarrado a um bode morto num manguezal e filma para a próxima Bienal de São Paulo um vídeo em que aparece preso a pedras, caranguejos e outro bode, "animal macho, que vive com muito pouco".

"Há uma pulsão única no Norte, são lugares com informações mais brutas", diz Braga. "Não é à toa que artistas trabalham com corpo, ação, questões de violência. É a experiência física do lugar."

O jornalista SILAS MARTÍ viajou a convite do Centro Cultural Banco do Brasil.

AMAZÔNIA
QUANDO de ter. a dom., das 9h às 21h; até 22/7
ONDE CCBB-Rio (r. Primeiro de Março, 66, Centro, Rio, tel. 0/xx/21/3808-2020)
QUANTO grátis

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