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Crítica Romance Picardia colore intimismo de Hélio Pólvora "Don Solidon", segundo romance do autor baiano de 83 anos, narra a crise de uma família com toques burlescos NELSON DE OLIVEIRAESPECIAL PARA A FOLHA O escritor baiano Hélio Pólvora, nascido em 1928, estreou na ficção com um livro de contos, "Os Galos da Aurora" (1958), e foi fiel ao gênero durante meio século. Seu primeiro romance, "Inúteis Luas Obscenas", saiu em 2010 e foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura. Um ano depois, o autor já entregava ao editor seu segundo romance, escrito em apenas quatro meses. Mas "Don Solidon" está longe de ser uma "obra de quatro meses". Se comparado com o romance anterior, que exigiu cinco anos de gestação, não perde a disputa. Sequer empata. Ele vence por uma pequena margem. "Inúteis Luas Obscenas" e "Don Solidon" falam da desagregação da família, porém o segundo romance faz isso com mais misantropia e um toque de picardia. A sequência de 80 capítulos curtos acompanha João Pedro da infância rural, na antiga Casa dos Limoeiros, à maturidade cosmopolita, no Rio de Janeiro e em Londres. João Pedro é o "Don Solidon" da cantiga do folclore lusitano, interpretada por Amália Rodrigues. É o ensimesmado, o andarilho casmurro que insulta os estranhos e foge da família. Hélio Pólvora oferece ao leitor não um álbum organizado e encadernado, mas uma caixa com lembranças, fotografias, pedaços de canções e jornais, cenas de livros e filmes antigos. Outras importantes solidões gravitam a de João Pedro. Há a solidão irresponsável do pai, Joaquim Pedro, e a solidão transformadora de Anabela, a mãe. Sem esquecer a maliciosa solidão do gato da casa. Não seria difícil filiar "Don Solidon" à velha tradição do romance psicológico e introspectivo. Mas seria uma filiação estrábica. As cenas burlescas apartam o intimismo jocoso de Pólvora da atmosfera penumbrosa de Cornélio Pena e Lúcio Cardoso, nomes fortes de nosso romance psicológico. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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