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Tutti buona gente

Nova edição de clássico 'Brás, Bexiga e Barra Funda' resgata texto original de Alcântara Machado sobre imigrante italiano

Divulgação
Italianos na Hospedaria dos Imigrantes, em SP, em foto sem data
Italianos na Hospedaria dos Imigrantes, em SP, em foto sem data

FABIO VICTOR
DE SÃO PAULO

O barbeiro Tranquillo Zampinetti vive com a cabeça na Itália e se azucrina porque os filhos nascidos no Brasil não querem falar italiano, até que chora quando um deles se forma em direito no largo São Francisco -e requere a naturalização para o pai.

O soldado Aristodemo Guggiani tasca um tabefe no alemão que caçoa do Hino Nacional no serviço militar.

A menina pobre Lisetta inveja, no bonde, o ursinho da filha da madame.

O garoto Gaetaninho, que sonhava em andar de carro, morre atropelado por um bonde enquanto joga bola de meia na rua.

Aos 85 anos, o livro de contos "Brás, Bexiga e Barra Funda", de António Alcântara Machado (1901-1935), celeiro desses personagens, ganha uma edição que ilumina sua condição de clássico.

Trabalho do pesquisador João Valentino Alfredo para a editora Papagaio, o volume reestabelece o texto original de 1927, desfigurado ao longo dos anos por palavras trocadas e pontuação errada, e contextualiza seu universo.

Ironicamente, coube a um "quatrocentão" da aristocracia paulistana como Alcântara Machado o pioneirismo de retratar ficcionalmente a vida dos imigrantes italianos na São Paulo da primeira metade do século 20 -os bairros do título como pólos da comunidade estrangeira mais numerosa da capital.

Os 11 contos de "BBBF" compõem um inventário da integração gradual dos italianos à cultura brasileira.

"A ideologia do livro é a domesticação do estrangeiro", interpreta o diplomata e ex-ministro Rubens Ricupero, descendente de italianos, ex-morador do Brás e autor do prefácio a uma edição italiana de "BBBF". Para ele, nenhuma outra obra sobre a imigração atingiu o mesmo grau estético.

Inovador também na forma, com estilo cinematográfico, prosa ágil e seca, Alcântara Machado foi modernista de primeira hora, vivendo porém sempre à sombra dos expoentes do movimento.

Como parte do Momento Itália/Brasil, intercâmbio cultural entre os países, chega também às livrarias "Retratos da Imigração Italiana no Brasil" (Editora Brasileira), com texto do ítalo-brasileiro Angelo Iacocca, fotos (como a publicada nesta página) e documentos, em edição bilíngue português-inglês, que reconstrói a trajetória desta comunidade no país.

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