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Crítica não ficção

Jornalista reconstitui com brilhantismo vida de embaixador em solo nazista

RICARDO BONALUME NETO
DE SÃO PAULO

Não havia muita gente interessada em ser o embaixador americano na Alemanha em 1933, ano em que os nazistas de Adolf Hitler tomaram o poder e foram aos poucos se tornando senhores absolutos do país.

As primeiras escolhas do presidente americano Franklin Roosevelt recusaram o posto, que já então se configurava bem desagradável. Sobrou para um embaixador nada típico: William E. Dodd (1869-1940), professor universitário de história em Chicago.

O jornalista Erik Larson reconstituiu com brilhantismo o período (1933-1937) em que Dodd e sua família viveram em Berlim.

A família morou em uma casa alugada na fronteira com o Tiergarten, um grande parque urbano cujo nome pode ser traduzido como "jardim das feras". Dodd foi aos poucos percebendo quais eram as verdadeiras feras.

O embaixador é o personagem central, mas sua interessante filha não fica muito atrás. Martha, 24, era um furacão sexual.

Ela teve amantes variados. Um deles foi o então chefe da polícia secreta Gestapo, Rudolf Diels; também se relacionou com um oficial importante da força aérea alemã, Ernst Udet; com o diplomata francês Armand Berard; e, principalmente, com um espião soviético, Boris Winogradov.

Os diplomatas americanos pertenciam a um "clube" informal de privilegiados, formados nas principais universidades, e ricos. O dinheiro facilitava dar recepções e jantares com esplendor.

Dodd era professor universitário, e fazia questão de viver com o relativamente modesto salário de diplomata.

Isso não pegava bem para o embaixador em uma grande capital europeia, especialmente porque os nazistas também gostavam de luxo.

Mas o maior problema era de personalidade. Os nazistas eram um bando de gângsteres. Dodd ficava horrorizado com eles.

Larson dá um retrato preciso de toda dificuldade desse senhor de modos serenos, um historiador à moda antiga, em se adaptar a um mundo de polícia secreta e paramilitares batendo em pessoas nas ruas.

Dodd não conseguiu deter nem um pouco a marcha da história, mas merece um lugar de destaque.

Quando voltou aos EUA, fez palestras sobre o perigo crescente da Alemanha, mas foi considerado uma "Cassandra". Poucos confiavam em suas interpretações.

Porém, como bem escreveu Erik Larson, "Dodd acabou se revelando exatamente o que Roosevelt desejava: um farol solitário da liberdade e da esperança americanas numa terra onde as trevas se avolumavam".

NO JARDIM DAS FERAS
AUTOR Erik Larson
EDITORA Intrínseca
TRADUÇÃO Berilo Vargas
QUANTO R$ 39,90 (448 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo

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