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Olhai as periguetes

Herchcovitch diz que estilistas brasileiros devem criar para a moda popular; SPFW começa hoje

VIVIAN WHITEMAN
PEDRO DINIZ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Vamos cair na real." Em tempos de crise, polêmicas e transição na moda brasileira, Alexandre Herchcovitch -um dos principais estilistas da São Paulo Fashion Week, que começa hoje- faz um diagnóstico bastante lúcido sobre a relação entre criação e vendas neste mercado.

Sucesso de licenciamentos (de diversos produtos, como roupa de cama, bolsas e sapatos, feitos em parceria com lojas e marcas como Zelo e Via Uno), o estilista diz que a moda precisa descer do pedestal e aconselha os colegas de profissão: "Hoje, quem quiser sobreviver no Brasil e competir vai ter de fazer produto para as classes C e D".

Folha - O que acha de alguns estilistas terem sugerido separação entre marcas comerciais e conceituais nas semanas de moda brasileiras?
Alexandre Herchcovitch - Quando você faz algo com propriedade, não tem medo. Eu desfilo em Nova York. Lá, tem marca que desfila camisa pólo que faz há 120 anos. Desculpa, não fico pedindo reunião com o Paulo Borges [diretor da São Paulo Fashion Week] de Nova York para separar a minha marca. E quem será Deus para separar bons de menos bons? Cada um tem de cuidar do seu, fazer o melhor e ter a coragem de mostrar. Tive coragem de colocar travesti na passarela. Estou falando de 20 anos atrás. Já fiz Phytoervas, Morumbi Fashion, Paris, Nova York... Nunca reclamei das pessoas que estavam do meu lado.

O que o público final quer?
Vamos cair na real, gente. O Brasil tem expertise de fazer roupa popular, de "periguete". A gente também tem que olhar para isso. Pensei no banho hoje e queria falar: o que vendo mais e menos? Não vendo tanto vestido de R$ 10 mil. O que vendo muito são meus produtos de licenciamento, edredons de R$ 250, sapatos de R$ 129. Não vou deixar de fazer vestidos caros porque tenho clientes que os querem. Hoje, quem quiser sobreviver no Brasil e competir vai ter de fazer produtos para as classes C e D.

Como é concorrer com grifes internacionais de luxo?
Nossa roupa não é bem feita, não dá pra competir, não temos o mesmo acesso aos tecidos. Se compramos esses tecidos, a peça fica caríssima. Faço a melhor roupa possível num padrão que me permita vender no Brasil.

E quem é sua cliente?
Não sei definir. Já tentei fazer essa coisa de " estilo da brasileira", certo padrão, mas não tenho mão. Não é problema, o país é grande, há variedade de gostos. Minha marca conquistou seu espaço. Se minha roupa fosse "periguete", teria mais clientes, mas não sei fazer isso, então, ajustei minhas expectativas.

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